Simpósios temáticos marcam segundo dia de atividades da 1ª da Semana Nacional de História da UEPB
“História, interdisciplinaridades e culturas”. A partir desse tripé que alicerça a história da humanidade, professores e estudantes da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e de outras instituições se distribuíram em grupos de trabalho para debater alguns dos temas que fazem parte do cotidiano da sociedade e da vida dos futuros historiadores, como o resgate da memória, o ensino da história na perspectiva das relações étnico-racial, religião, relação com a psicanálise e a diversidade cultural no Brasil.
Os simpósios temáticos movimentaram o segundo dia da 1ª Semana Nacional de História, promovida pelo Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba. O evento acontece até a próxima quinta-feira (26), na Central de Integração Acadêmica, no Câmpus de Bodocongó, em Campina Grande. No total, serão realizadas 23 comunicações orais, sempre na perspectiva de promover reflexões, diálogos e discussões sobre a contemporaneidade, tomando a interdisciplinaridade como seu eixo articulador.
Um dos simpósios teve como tema “História da educação: narrativas e memórias sobre práticas educativas, instituições, sujeitos e políticas educacionais”. Nessa atividade, os professores Alan Tássio Galdino e Patrícia Isabella Guimarães Azevedo Silva, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), debateram a História da Educação local e nacional e a sua produção a partir dos trabalhos selecionados, observando os aspectos teóricos e metodológicos nas produções escritas.
Professora Patrícia Isabella tratou da história enquanto prática escolar, a partir das experiências de cada local investigado. A docente revelou que, atualmente, o Brasil atravessa uma crise de memória, o que se torna um desafio para o historiador. “Resgatar a memória e mostrar sua importância para as novas gerações é fundamental, porque a partir do resgate da memória você valoriza a sua história enquanto sujeito ativo”, destacou.
Em sua exposição, professor Alan Tássio ressaltou que pensar nas narrativas histórica sobre a memória da educação é de extrema importância para entender toda a conjectura que o país vive. Para o historiador, essa discussão deve extrapolar os limites da academia e envolver a sociedade, visto que a população faz parte desse processo educativo.
Simultaneamente, professores e estudantes, debateram as relações que existem entre a história e a psicanálise. O simpósio “História e Psicanálise” foi coordenado pelos professores da UEPB, Matusalém Alves Oliveira e José Adilson Filho. Nessa atividade, eles procuraram discutir a importância da psicanálise para a ampliação do conhecimento histórico com vistaa à compreensão das subjetividades e tramas sociais, políticas e culturais contemporâneas. Buscaram também contribuir na reflexão sobre as possibilidades que se abrem com o diálogo interdisciplinar entre ambos saberes do ponto de vista teórico e metodológico.
“Esse simpósio permite um diálogo entre esses dois conhecimentos, para que possamos perceber e enxergar o inconsciente coletivo a partir da individualidade e da subjetividade da mente humana”, destacou o professor e historiador Matusalém Alves Oliveira, que também é um dos coordenadores do evento. O professor José Adilson Filho considera complexo fazer relação de semelhança entre a história e a psicanálise, mas observou que as duas têm algo em comum, que é o trabalho com a temporalidade. “Só que a temporalidade em história é sucessiva. Os tempos se articulam, mas de forma separada. Na psicanálise, esses tempos não são separados, mas estão entrelaçados. Por isso, o que nos aproxima é o tempo e, sobretudo, o passado”, observou.
Um dos simpósios temáticos mais procurados nesta terça-feira foi “História, a religião e a diversidade cultural no Brasil”. Coordenado pela professora Ofélia Maria Barros da UEPB e pelo professor José Pereira de Sousa Junior, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a atividade congregou trabalhos que enfocam religião e religiosidade, trazendo pesquisas conclusivas ou em andamento que versam sobre aspectos da devoção, do sagrado, profano, da reencarnação, espiritualidade, fé, crenças e demais manifestações religiosas.
A professora Ofélia, que coordena o Núcleo de Estudos Afro Brasileira Indígenas (NEABI), disse que a atividade procurou discutir sobre as questões religiosas e manifestações culturais ligadas às populações negras e indígenas. “Trabalhar esse tema é uma necessidade, porque existe um silêncio. O nosso ensino ainda é muito centrado na matriz europeia. Mas independente de nos acharmos branco ou não, nossa matriz não é só europeia. Ela é africana e indígena”, enfatizou.
Palestra de abertura aborda negacionismo histórico
O Auditório III da Central de Integração Acadêmica ficou lotado de estudantes do Curso de História para a abertura da 1ª Semana Nacional de História da UEPB que, em sua atividade inicial, na noite da segunda-feira (23), teve como tema central o negacionismo histórico, em palestra proferida pelos professores da Universidade Federal do Ceará (UFC), Francisco Régis Lopes e Jailson Pereira. Também participou da mesa o professor José Adilson Filho, que mediou os trabalhos.
Durante sua explanação, professor Régis teceu questionamentos sobre a relação do tempo e o negacionismo na história. Segundo ele, a tradição do eu, impulsionada pela cultura do neoliberalismo, reforça a instabilidade das questões temporais. “Como as unidades de tempo são fragmentadas, por falta desse conhecimento o negacionismo ganha força. Vivemos a tradição do eu, que leva a instabilidade do tempo devido a esse presentismo gerado pelo neoliberalismo”, explicou o professor.
Já professor Jailson explicou que “em alguma medida a experiência de transitar pelo espaço do outro, nos faz refletir sobre nós mesmos. A colonialidade é essa condição da qual nós ainda não conseguimos nos desatar. Ainda temos um imaginário colonizado que está limitado por padrões e por visões de mundo exteriores que nos colocam no lugar de subalternidade”, explicou.
Também participaram da abertura do evento o professor Matusalém Alves Oliveira, chefe do Departamento de História; a coordenadora do curso, professora Auricélia Lopes Pereira; o pró-reitor de Cultura da UEPB, professor Cristóvão de Andrade; além de outros professores do Departamento e integrantes do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI), do Centro de Educação (CEDUC) e do Núcleo de Documentação e Pesquisa em História (NUDOPH).
A 1ª Semana Nacional de História, apresenta uma reflexão sobre o diálogo que a história mantém com outras ciências dentro da perspectiva de cuidar das questões pertinentes à cultura. Na manhã dos três primeiros dias, acontecem os simpósios temáticos, com abordagens de acordo com a linha de pesquisa de cada professor. As atividades do evento contam ainda com a realização de minicursos, conferências e mesas redondas. No total, 380 estudantes estão participando da Semana, que ainda envolve dezenas de professores e alunos, que atuam como monitores voluntários.
As atividades da 1ª Semana Nacional de História seguem até a próxima quinta-feira (26), quando serão encerradas com a palestra “História e Universidade no Contexto Atual”, a ser conferida pelo professor Durval Muniz, um dos maiores historiados do Brasil na atualidade.
Texto: Severino Lopes e Givaldo Cavalcanti
Fotos: Paizinha Lemos
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