Universidade Estadual da Paraíba oferta curso de extensão sobre Filosofia Africana e Ameríndia

7 de agosto de 2019

A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através do Centro de Educação (CEDUC) e do Departamento de Filosofia, está com inscrições abertas para um curso de extensão versando sobre a Filosofia Africana, Ameríndia e suas Interfaces. A atividade é realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Filosofia e Filosofia Marxista (Nepefil) da Instituição, com o objetivo de criar condições para que a comunidade acadêmica conheça, estude e se aproprie de um saber originalmente novo em nosso contexto, mas que já existia muito antes da formação do Ocidente.

O curso é gratuito, dispõe de uma carga de 90 horas/aula, será iniciado no dia 23 de agosto e as inscrições podem ser efetivadas clicando AQUI. Há 150 vagas disponíveis. As preleções ocorrerão às sextas-feiras, entre os meses de agosto e novembro, das 14h às 18h, na Central de Integração Acadêmica da UEPB, no Câmpus de Bodocongó, em Campina Grande.

A coordenação é do professor Valmir Pereira, com a colaboração dos docentes Gilmara Coutinho Pereira, Roberto Rondon, Luciano da Silva, Deyvson Barreto Simões da Silva e Ana Monique Moura Araújo. Dentre as premissas da iniciativa figuram difundir a Filosofia Africana e Ameríndia, por meio da capacitação de professores do Ensino Fundamental e Médio das redes pública e particular, além daqueles interessados na temática, possibilitando o aprendizado e discussões aprofundadas a respeito do tópico, criando uma reconstrução da História da África e da América Latina.

De acordo com o professor Valmir, é notório que no período de colonização e expansão territorial no século XV, algumas nações europeias, predominantemente Portugal e Espanha, dominaram territórios no Novo Mundo, mais especificamente situados na América Latina. “Ao colonizar estes lugares, colonizaram também as mentes, substituindo aos poucos o pensamento dos povos nativos pelo cristianismo e pela filosofia grega e escolástica, no processo de escolarização da colônia nascente”, explica.

Segundo ele, “no século XVIII, com o acúmulo do desenvolvimento industrial, os países europeus se reuniram e resolveram dividir o continente Africano e o Asiático entre si para expandirem seus mercados. O poderio industrial e militar foi subjugando cada espaço nesses continentes, e, aos poucos, também sobrepunha ao idioma nacional à cultura do colonizador. Desse modo, o epistemicídio foi a consequência imediata, o que se constituiu e se constitui num dos instrumentos mais eficazes e duradouros da dominação étnico-racial”.

Para Valmir, o genocídio que pontuou tantas vezes a expansão europeia foi também um epistemicídio. “Mas o epistemicídio teve um maior alcance que o genocídio, tendo em vista que ocorreu sempre que se pretendeu subalternizar, subordinar, marginalizar ou ilegalizar práticas e grupos sociais que podiam ameaçar a expansão capitalista, contra os trabalhadores, os índios, os negros, as mulheres, minorias em geral (étnicas, religiosas, sexuais), enfim, qualquer expressão considerada ‘estranha’”, assinala o coordenador.

Vários fatores que vieram a seguir, segundo o professor, contribuíram para tal, a exemplo da desqualificação do conhecimento dos povos subjugados, a negação ao acesso à educação, sobretudo de qualidade, a disseminação da inferiorização intelectual e os diferentes mecanismos de deslegitimação do negro e do índio. “Isto decorre do fato de que não é possível diminuir as formas de saberes dos povos dominados sem desqualificá-los também, individual e coletivamente. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas se expressa por meio do racismo, do sexismo epistêmico, pelo genocídio de muitas epistemologias, desde o século XVI, e continua em plena prática”, endossou.

“Legado Roubado”

O curso nasceu da solicitação dos discentes e das discussões propostas pelo Nepefil, especialmente em decorrência da repercussão da obra “Legado Roubado”, de George G. M. James e publicada em 1954, conforme ressaltou Valmir. Nela o autor comprova que a Filosofia teve sua origem no Egito, muitos séculos antes dos gregos existirem como nação. “Esta informação encontrou eco nos alunos, cujo referencial filosófico estava circunscrito ao ocidente, de etnia branca e europeia.

Nesse sentido, este Curso é de suma importância para fazer justiça e devolver a Filosofia aos seus criadores, abrindo novos horizontes e perspectivas para a Filosofia fora da Europa”, relata Valmir. A atividade também tem por base a produção de Henrique Dussel e Anibal Quijano, entre outros. Esclarecimentos adicionais podem ser obtidos pelo telefone (83) 99804-2123 ou através do e-mail nepefilkarlmarx@gmail.com.

Texto: Oziella Inocêncio

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