Palestra reforça necessidade de valorização da cultura de paz como enfrentamento da violência escolar
Os desafios do exercício da profissão de professor têm alcançado cada vez mais questões complexas que transbordam a responsabilidade da docência. E para orientar, potencializar a formação e preparar melhor os jovens professores que ainda estão na graduação, mas já se encontram em ambiente de sala de aula, a coordenação do Curso de Letras/Português da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) promoveu, na noite desta terça-feira (2), uma palestra com o psicólogo Rossandro Klinjey que abordou a valorização da cultura de paz como enfrentamento da violência escolar.
A atividade aconteceu no Auditório III da Central de Integração Acadêmica, no Câmpus de Bodocongó, e contou com uma participação expressiva dos estudantes que estão em fase de estágio no Nível Fundamental II e que, além de assistirem a palestra, puderam fazer perguntas, apresentar relatos das dificuldades que estão enfrentando nesse contexto e ainda receberem dicas de como se comportarem em situações que atinjam a esfera extraclasse. De acordo com Rossandro, psicólogo clínico, mestre em Saúde Coletiva, doutorando em psicanálise e escritor, os alunos estão lidando com uma realidade mais dura do que imaginavam e isso os angustia. Entretanto, é preciso se capacitar, buscar ajuda com professores mais experientes e conhecer experiências já exitosas em situações semelhantes as que eles estão vivendo.
“É preciso buscar solução e não ficar em pânico, com paralisia, com o discurso de que nada pode ser feito, de ‘vou apenas passar num concurso, empurrar com a barriga e garantir meu ganha pão’, porque aquelas pessoas podem ter no professor sua única oportunidade de resgate emocional e moral. Os professores precisam entender que eles não podem se cobrar para salvar todos os alunos, mas eles devem se capacitar para salvar alguns dos alunos e agir em confrontação nesse ambiente, agir com cultura de paz”, explicou o palestrante que abordou o assunto também sob a ótica dos problemas sociais que estão relacionados diretamente às situações de violência escolar.
De acordo com Rossandro, “a dificuldade da educação dos pais reflete diretamente na dificuldade da educação na escola. Como esses alunos vão respeitar o professor se em casa eles não respeitam os pais? Esses jovens são de uma geração muito permissiva. Muitas vezes são de comunidades carentes, de lares violentos, que muitas vezes não têm carga de afeto. E aí nós encontramos uma tempestade perfeita. Um conjunto de variáveis que vai fazer com que aqueles indivíduos cheguem na escola e se sintam desassistidos, desimportantes, sem acesso ao consumo que a sociedade estimula para ter, mas eles têm o desejo de ter. E, então, vem o lado da violência, que oferece esse acolhimento para dar identidade, pertencimento e empoderamento”, frisou.
Como alternativas para enfrentar questões relacionadas a esse tema, o psicólogo sugeriu que os alunos de licenciaturas busquem por soluções que possam interferir positivamente em cada ambiente particular, que encarem a realidade com profissionalismo, mas também com olhar humano, para ajudar pessoas que se encontram em situação de risco. “É preciso socializar as soluções, ir atrás, ser proativo nesse sentido. É preciso entender que para cada realidade você vai adaptar as soluções. Existem outras pessoas como você tentando mudar aquele cenário. Embora a violência cresça, a esperança e a paz é o que devem ficar. E, acima de tudo, um alerta: não vá para a escola pública sabotar quem já está sendo sabotado pela sociedade”, destacou.
Realidade escolar instigou professoras a promover a discussão do tema
Ao ouvirem muitos relatos dos estudantes que estão na fase de estágio sobre lidar com situações que fogem do controle da atividade de professor em sala de aula, as professoras do Curso de Letras da UEPB iniciaram um debate sobre o tema com uma mesa redonda, na última semana, e após o resultado positivo dessa discussão, organizaram esta palestra sobre violência escolar. A professora Telma Sueli, coordenadora de estágio supervisionado de Inglês; Tatiana Sant’ana, da Residência Pedagógica de Português; e Iara Cavalcanti, do PIBID de Português, avaliaram positivamente a participação dos alunos na atividade e projetaram a continuação de momentos de formação como esse.
“Nossos alunos estagiários estão se deparando com um cenário que está além de suas expectativas em relação à violência. Temos percebido que nas escolas existem vários tipos de agressões, além de percebemos que este é um tema atual. Temos estagiários dos cursos de Letras Português, Inglês e Espanhol e o que nós propomos foi repensar, tentar reconstruir esse modelo de que a gente possa apenas acusar. Nós queremos que esses estudantes acolham muito mais do que simplesmente negligenciem essas situações de dificuldades em sala de aula”, explicou a professora Tatiana Sant’ana.
Aluna do 4º período do curso de Letras/Português, Amanda Cândido afirmou que já vem lidando com algumas situações de violência na escola, mas que tem buscado se preparar melhor para conseguir superar essas questões. Ela destacou o trabalho necessário de identificar os problemas que muitos alunos enfrentam e, a partir daí, oferecer um suporte para combater esse cenário. “Estou me encontrando na docência e vejo que o momento em sala de aula é importante para conseguir identificar esse cenário preocupante que é o da violência. Os professores que nos acompanham dão um suporte quando necessário e palestras como essa são muito importantes para entendermos mais como devemos lidar em situações que, infelizmente, também fazem parte do cotidiano da escola”, disse.
Texto e fotos: Givaldo Cavalcanti
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