Dia Internacional de combate à discriminação racial: UEPB é espaço de diversas ações relacionadas à temática

19 de março de 2021

Cursos de especialização e aperfeiçoamento, núcleos de estudo, eventos, produções científicas, projetos de pesquisa e extensã. São muitas as iniciativas que fazem parte do cotidiano da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e que contribuem para a conscientização sobre a temática e o enfrentamento do racismo. Neste 21 de março, Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, a UEPB apresenta um balanço de algumas ações realizadas nos diversos Centros da Instituição com a vertente racial, buscando, sobretudo, enfrentar o racismo, as desigualdades, os preconceitos e as intolerâncias.

Prestes a completar 15 anos desde que foi implantado no Câmpus I da UEPB, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neab-í) é uma dessas iniciativas articuladora de eventos, cursos e discussões voltadas às populações negras, quilombolas e indígenas. O Núcleo reúne pesquisadores da Instituição que desenvolvem diversos estudos e projetos relacionados à temática racial. As iniciativas do Neab-í são consideradas importantes por ajudarem a desnaturalizar e desconstruir o racismo em uma sociedade em que esta é uma questão estrutural.

Muitas das ações do Núcleo foram realizadas a partir do que consta nas leis federais 10.639/2003 e 11.645/2008, que regulamentam o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. A professora do Departamento de Educação, Margareth Maria de Melo, é integrante do Neab-í e estuda, desde 2007, a questão afro-brasileira e, partir de 2011, passou a desenvolver pesquisas sobre a questão negra no livro didático. A tese de doutorado de Margareth, “Gerando Eus, Tecendo Redes e Trançando Nós: Relações Étnico-Raciais na Formação de Professores”, suscita reflexões relacionadas à forma como docentes e estudantes negras se sentem no cotidiano dos cursos de Pedagogia e enfocam a temática afro-brasileira nas suas redes de conhecimentos, práticas e relações.

Hoje docente da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), em Marabá (PA), vinculado ao N’ubuntu, núcleo com atuação semelhante ao Neab-í, o egresso da graduação em História da UEPB, Janaílson Macêdo, relembra o período de fundação do Neab-í, quando ele atuava no Núcleo, e evidencia a importância do trabalho empreendido pelo grupo para sua formação.

“Por intermédio das ações desenvolvidas no Núcleo pude, inicialmente, repensar a minha própria identidade enquanto negro, algo que pouco problematizava durante os anos iniciais de vida. Além disso, apesar de já ter percebido a existência do racismo e tê-lo vivenciado, ainda não tinha o acesso às informações que mostrassem outras perspectivas, como a riqueza de experiências humanas construídas durante a história da África, bem como da história das populações negras no Brasil. Então, acredito que Núcleos como o Neab-í possibilitam que agendas de transformação social, como as que são defendidas há décadas pelo movimento negro, possam não somente adentrar a academia, como também chegar, por intermédio dela, a outros espaços, em especial às escolas e à educação básica”, destaca Janaílson.

Em 2013, o Neab-í passou a atuar também no Câmpus de Guarabira, onde tem empreendido diversas ações. Um dos fundadores do Neab-í no Centro de Humanidades (CH) é o professor Waldeci Ferreira Chagas, que leciona História da África e Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena no curso de História. O docente, que, paralelo à formação acadêmica também pode desenvolver-se sob o ponto de vista político e cidadão ao integrar o movimento negro no qual atua desde 1987, passou a lutar contra o racismo utilizando o poder da educação.

“Na época no curso de História não havia discussão sobre racismo, raça, preconceito racial, eu tive acesso a essas discussões através do Movimento Negro Unificado, cujo coordenador era João Balula (já falecido). Em 1991 comecei a ensinar História na educação básica e levei para a sala de aula a discussão sobre racismo e preconceito contra pessoas negras. Nem sempre essa pauta era bem-vinda, mas possibilitava aos meninos e meninas a discussão, na perspectiva de que se colocassem frente ao racismo. Assim eu comecei a trabalhar e discutir racismo em sala de aula. Em 1999 ingressei na UEPB, como Professor do Curso de História e em 2000 passei a lecionar História da África. O contato com essa matéria me possibilitou solidificar a temática racial como tema de pesquisa e estudo, visto que já fazia parte da minha vida como cidadão negro que sou”, lembra Waldeci.

O Centro de Humanidades também sedia o curso de Especialização em Educação Étnico-racial na Educação Infantil, que está com a terceira turma em andamento, prevista para conclusão em meados deste ano. Essa iniciativa, que possibilita o conhecimento de questões relacionadas às heranças africanas presentes no cotidiano dos brasileiros, busca colaborar com o desenvolvimento dos docentes, no sentido de auxiliar crianças e jovens na construção de suas identidades étnico-raciais, descolonizando o currículo escolar e reinventando as imagens da cultura afro-brasileira. No câmpus de Guarabira foi ofertado ainda o curso de especialização em Cultura e Literatura Afro-brasileira e Africana, além de diversos eventos e ações de pesquisa e extensão.

No campo da pesquisa também são vários projetos empreendidos nos diversos centros e departamentos da Instituição que englobam as questões de raça. De acordo com a lista de projetos aprovados na cota 2020/2021 do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a UEPB conta com projetos que discutem temáticas raciais coordenados por pesquisadores de áreas como História, Educação, Direito, Serviço Social.

Cotas raciais
Recentemente, a UEPB, que conta com cotas sociais desde 2006, iniciou uma série de discussões no sentido de ampliar a inclusão social proporcionada pela política de reserva de vagas agregando um sistema de cotas raciais. Atualmente, de acordo com a Resolução/UEPB/CONSEPE/058/2014, 50% das vagas dos cursos de bacharelado são reservadas para estudantes oriundos de escolas públicas.

A estudante de Psicologia, Danielly Scalone, que integra a comissão que discute a implantação das cotas raciais na Universidade, destaca que a UEPB possui uma importante função social, que vai além do seu papel de formação. “Através do tripé de ensino, pesquisa e extensão e seu poder de articulação, acredito que a UEPB possa atualizar suas políticas de acesso, permanência e assistência para contribuir com a formação de mulheres negras, e a aceitação delas nos mais diversos espaços”, avalia.

Com essa perspectiva a UEPB, que hoje conta com uma mulher negra no cargo de vice-reitora, a professora Ivonildes Fonseca, tem empreendido diversos esforços considerando, inclusive que as pautas sociais são uma preocupação da atual gestão. Nesse sentido, uma comissão formada por estudantes, técnicos administrativos e docentes da Instituição, e representantes dos diversos setores de administrativos, reuniu-se nesta sexta (19), para aprofundar o debate sobre as cotas raciais e futuras ações a serem implementadas na UEPB. A perspectiva é que, além das cotas sociais para estudantes de escolas públicas, a Universidade Estadual também possa ofertar vagas exclusivas para pessoas negras, quilombolas e povos indígenas.

Texto: Juliana Marques

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