Pesquisa da UEPB sobre conversão de lixo plástico é destaque em revista científica internacional
Muitas pessoas não imaginam, mas os resíduos plásticos são responsáveis por boa parte da poluição, tanto em áreas terrestres como também nos rios e oceanos. Nas áreas aquáticas, por exemplo, a estimativa é de que sejam lançadas entre 1,15 e 2,41 milhões de toneladas de plásticos por ano, segundo estudo da Ocean Cleanup, uma fundação holandesa que atua nesse seguimento. Entretanto, uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) surpreendeu a comunidade científica mundial com uma alternativa real para combater este problema.
A pesquisa “Conversão de Lixo Plástico em Nanoespumas Fotocatalíticas para Remediação Ambiental”, coordenada pelo professor Rodrigo José de Oliveira, do Departamento de Química, foi destaque na edição do último dia 20 de fevereiro, da revista ACS Applied Materials and Interfaces, da American Chemical Society, uma publicação com conceito Qualis A1 e fator de impacto 7,5, um dos maiores valores dentro da área de Química. De acordo com o professor Rodrigo, essa pesquisa vem sendo feita desde 2015, com a aluna Geovânia Cordeiro, atualmente doutoranda na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), e tem como foco solucionar uma adversidade do meio ambiente utilizando outro problema ambiental.
“Nosso foco é pegarmos um problema, que é o lixo plástico, e dar a este rejeito um fim nobre. Isso significa poder transformar o lixo plástico em um agente de remediação ambiental. Para realizar essa proposta, nós pegamos um plástico, utilizamos uma técnica físico-química chamada ‘separação de fases induzida termicamente’ e com essa técnica colocamos o plástico em contato com um solvente para obter ao final uma espuma. A espuma tem uma vantagem, que é sua grande área superficial, por possuir muitos poros. Nesses poros penduramos nanopartículas que têm ação catalítica e podem destruir os poluentes”, explicou professor Rodrigo de Oliveira.
Segundo foi comprovado durante a pesquisa, o plástico que era um problema foi convertido em um material que colocado em uma área poluída ou com alto grau de concentração de corantes na água, catalisa as impurezas e faz a coloração desaparecer. “Esse novo material foi criado para que pegássemos um rejeito problemático para o meio ambiente e o transformasse em um agente capaz de combater de forma eficaz a poluição”, explicou o pesquisador, que assinou a publicação ao lado do professor Julian Eastoe, da Universidade de Bristol, School of Chemistry (Inglaterra).
Sobre essa parceria com a Universidade de Bristol, professor Rodrigo ressalta que a pesquisa chamou tanta atenção que ele foi convidado, no mês de maio de 2017, para trabalhar como pesquisador visitante na Inglaterra, custeado pela própria instituição, o que contribuiu para que fosse formado um canal de interação entre a School of Chemistry e a UEPB. “Isso coloca a Universidade Estadual da Paraíba no circuito internacional, no principal circuito de pesquisa em materiais, e começa a abrir portas que antes estavam fechadas”, acrescentou o professor.
O coordenador geral da Pós-Graduação Strict Sensu da UEPB, professor Germano Verás, valorizou essa conquista da Instituição através da publicação da pesquisa coordenada pelo professor Rodrigo de Oliveira, uma vez que, segundo ele, a comunidade científica mundial passará a ficar mais atenta às pesquisas que são desenvolvidas pelos programas de Pós-Graduação da Universidade. “Toda a comunidade de pesquisadores do mundo inteiro acompanha essas publicações e a participação desse artigo em específico confirmou que na UEPB é produzida ciência de ponta. Essas revistas prezam pela qualidade e relevância de seu conteúdo e temos várias pesquisas de alto impacto, uma vez que todos trabalham pela qualificação do conhecimento que é produzido aqui”, afirmou Germano Verás.
Pesquisa ainda pode avançar mais
Se o ineditismo e a capacidade de revolucionar o combate à poluição mundial de materiais plásticos já têm uma importante representatividade para a pesquisa “Conversão de Lixo Plástico em Nanoespumas Fotocatalíticas para Remediação Ambiental”, imagine ter a chance de expandi-la para atuar em outras situações. Segundo explicou professor Rodrigo, há outra fase em desenvolvimento desta pesquisa que aponta para o uso de nanopartículas de dolomita que podem ser usadas para regeneração de nutrientes de águas tratadas, como na recuperação da água de esgoto, por exemplo, ou em espaços aquáticos que têm a proliferação de plantas.
“O uso das nanopartículas de dolomita é para recuperar a água que contém muito nutriente. Podemos usar uma espuma dotada de um tipo de material para recuperar o fosfato com a finalidade de usar esse fosfato em adubação. Com isso, eliminamos o excesso de nutrientes da água que contribuem para o aparecimento de um grande número de plantas, como acontece no Açude de Bodocongó, por exemplo.”, disse o professor.
Outro tipo de contribuição que a pesquisa pode dar é também atuar em outros agentes catalíticos para atingir outros rejeitos plásticos, como o isopor. “O isopor é utilizado em diversos tipos de embalagens. Ele tem uma composição mais complexa, mas também podemos atingi-lo. Por isso precisamos de um parque de equipamentos em laboratório que permita avançar. Nesse sentido, estamos sempre em busca de parcerias, como os pesquisadores e instituições que colaboraram conosco neste artigo”, acrescentou Rodrigo.
Após a divulgação do artigo na revista ACS Applied Materials and Interfaces, a expectativa é de que outros pesquisadores e instituições internacionais olhem com mais frequência para o que está sendo desenvolvido na UEPB, na mesma proporção em que aumenta a responsabilidade de manter esse tipo de trabalho por professores e alunos. “Conseguimos divulgar a UEPB em uma instituição que não a conhecia, demos um passo importante para o currículo de nossos alunos, além de atrair olhares como o da Sociedade Brasileira de Pesquisa de Materiais que já demonstrou interesse em conhecer mais de perto nosso trabalho”, pontuou.
Saiba mais sobre o assunto
*Estimativa global da produção de plástico
– 8,3 milhões de toneladas de plástico virgem foram produzidas nos últimos 65 anos
– Metade deste material foi produzido apenas nos últimos 13 anos
– Cerca de 30% da produção histórica continua sendo usada até hoje;
– Do plástico descartado, apenas 9% foi reciclado;
– Cerca de 12% foi incinerado, mas 79% terminou em aterros sanitários;
– Os itens de menos uso são embalagens, utilizadas por menos de um ano;
– Os produtos plásticos com uso mais longo estão nas áreas de construção civil e maquinaria;
– Tendências atuais apontam para a produção de 12 bilhões de toneladas de lixo plástico até 2050;
– Em 2014, a Europa teve o maior índice de reciclagem de plástico: 30%. A China veio em seguida com 25% e os EUA reciclaram apenas 9%.
*Fonte: Revista Science Advances
– Documentário Oceano Plástico
Texto: Givaldo Cavalcanti
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