Feira da Economia Solidária é realizada no Câmpus VII da Universidade Estadual em Patos
A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através do Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas (CCEA), em parceria com o Governo do Estado, Fórum Estadual de Economia Solidária e Ação Social Diocesana de Patos, realizou ontem (13), a Feira da Economia Solidária. O evento aconteceu durante todo o dia, no Câmpus Universitário da UEPB, em Patos.
Com o tema “Compartilhando as trilhas do bem viver” e ações que giram em redor da ideia de solidariedade, o evento constitui-se como um espaço de intercâmbio entre empreendimentos e divulgação da economia solidária, além de fomentar a análise e discussão acerca das experiências e desafios das iniciativas solidárias. Estiveram presentes na Feira agricultores familiares, quilombolas, artesãos, educadores, artistas e gestores públicos.
A solenidade de abertura do evento contou a presença de Adriano Homero Vital Pereira, diretor do CCEA; Cidoval Morais de Sousa, professor da UEPB vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) e idealizador do evento; Francisco Acácio da Silva, coordenador regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PB), em Patos; Padre João Saturnino de Oliveira, representante da Ação Diocesana de Patos; José de Anchieta de Assis, Casa da Economia Solidária de Pombal e o Comitê de Energias Renováveis do Semiárido; Valdefran Maia Diniz, representante dos expositores da feira e Stella Pereira, representante da Secretaria de Desenvolvimento Humano da Paraíba, além da participação especial do Reitor da UEPB, Antonio Guedes Rangel Junior que, por vídeo, transmitiu a sua mensagem a todos os participantes do evento.
Rangel, que participava de uma plenária sobre política cultural em Brasília, não pode estar fisicamente na Feira, mas através de um vídeo exibido pela organização do evento transmitiu a sua mensagem a toda comunidade. “Eu gostaria de me dirigir a todos vocês que estão participando dessa Feira de Economia Solidária, a todos que participaram efetivamente de sua construção, aos municípios em torno do nosso Câmpus em Patos e principalmente também a cidade de Patos, todos os membros da comunidade universitária do Câmpus de Patos, desejar primeiro todo o êxito ao evento e registrar a minha alegria em poder compartilhar desde momento mesmo a distância porque, pra nós, é extremamente importante que a universidade tenha essa inserção na sociedade, que a universidade participe efetivamente da vida do povo e possa contribuir na criação de soluções que possam vir melhorar a vida das pessoas”, destacou o Reitor.
Rangel disse ainda que “o objetivo de uma universidade é acima de tudo a busca do conhecimento, a busca da descoberta de questões importantes que possam propulcionar o desenvolvimento da humanidade, entretanto isso não se refere apenas a busca em pesquisas e laboratórios, mas se revela também na construção de soluções que possam efetivamente criar condições para problemas que se referem a organização da vida do povo, neste caso, nesta feira da economia solidária, uma parceria importante da universidade com Governo do Estado e com toda a comunidade no entorno da cidade de Patos, sem dúvida alguma, pra nós é um motivo de grande alegria e muita honra. Espero que seja só o começo de um conjunto de iniciativas que virão aí por diante”.
O diretor do CCEA saudou a todos e parabenizou o empenho da comunidade acadêmica na realização do evento. Adriano ressaltou a importância da realização da Feira no fortalecimento da economia solidária e na visibilidade que os empreendedores solidários precisam para demonstra o seu trabalho, e explicou que, de maneira cooperada, é possível construir uma vida mais harmoniosa.
Adriano falou ainda sobre a satisfação em o Câmpus VII poder se tornar um ambiente de recepção às iniciativas que contam com a participação de coletivos de produção, associações, cooperativas populares e redes de instituições de finanças voltadas para empreendimentos populares solidários, organizados pelos princípios da autogestão, democracia, solidariedade, cooperação, equidade, valorização do meio ambiente, trabalho humano e saber local.
Adriano destacou o caráter interdisciplinar da feira e enfatizou a mobilização e empenho dos alunos, professores, servidores técnicos e funcionários de apoio ressaltando a relevante corrente de bem que que se formou para que o evento fosse realizado, e finalizou agradecendo a presença de todos.
Francisco Acácio, representante da Emater, parabenizou a Universidade pela iniciativa e falou sobre a importância do evento para os pequenos produtores e agricultura familiar, e enfatizou que eventos como a Feira da Economia Solidária, realizada pela UEPB, oportuniza ao produtor a comercialização dos seus produtos. “Mais difícil que produzir é comercializar os produtos da agricultura familiar, e através de eventos como esse o produtor passa a ter essa condição”, destacou Francisco.
O Padre João Saturnino, falou sobre a alegria em ter uma instituição como a UEPB abrindo espaço para acolher as minorias, em uma parceria, para dar visibilidade a todos os pequenos produtores da economia popular solidária espalhada pelo médio sertão. “A gente sente essa alegria por ter um espaço para que eles mostrem o seu trabalho e possam dizer o quanto são capazes, por isso nós não podemos parar por aqui, estamos juntos nessa mesma caminhada”, acrescentou padre João.
O representante da Casa da Economia Solidária de Pombal, José de Anchieta, manifestou a sua alegria em vivenciar o momento de intercâmbio e reencontro com pessoas que vem construindo e fazendo a diferença nas suas comunidades. E disse que o evento foi construído a várias mãos, corações e mentes pensando positivamente para que esse momento pudesse acontecer.
Anchieta falou ainda sobre a expectativa para o evento. “Meu desejo é que essa experiência de hoje contamine, no bom sentido, outros Centos de ensino e pesquisa, e que possamos ir avançando e construindo novas perspectivas. Espero que essa semente aqui lançada possa crescer e dar bons frutos trazendo o bem viver para as famílias”.
Representando os expositores da Feira, Valdefran disse que “as feiras são espaços para troca de experiências, debate, construção e solidariedade, e uma feira como essa, realizado no âmbito da academia, proporcionando a troca de conhecimento dos agricultores com os educandos, dá visibilidade a agricultura familiar e nos oportuniza dizer que a gente existe e resiste no semiárido e que, acima de tudo, a gente vive bem e é feliz”.
Stella Pereira arguiu sobre oportunidade de troca de experiência proporcionada pelo evento, e de propagação dessa nova forma de vida, desse novo modo de conviver através da Economia Solidária. A representante da Secretaria de Desenvolvimento Humano da Paraíba ressaltou ainda o apoio da Instituição as iniciativas de cunho solidário e parabenizou a Universidade por oportunizar o intercâmbio no espaço acadêmico.
O idealizador da Feira da Economia Solidária no Câmpus VII da UEPB, professor Cidoval Morais, emocionado, recitou as linhas poéticas de Fernando Birri no texto sobre a utopia, citado por Eduardo Galeano in Las palabras andantes; e disse “essa Feira é primeiro passo nessa caminha, nessa busca, nesse sonho coletivo. Alguém disse há um tempo atrás, que ‘sonho que sonha só, é só um sonho, mas o sonho que é sonhado junto, torna-se realidade’, e a Feira da Economia solidária hoje é uma realidade. Eu agradeço de coração.”
As atividades do evento tiveram início com a exposição de produtos de Empreendimentos Econômicos Solidários e Comércio Justo. Com cerca de 30 expositores, a feira reuniu empreendedores econômicos solidários de diversos municípios sertanejos, dentre associações e cooperativas, com exposição e venda de produtos artesanais em tecido, cerâmica, barro, além de produtos gastronômicos, bebidas e medicamentos fitoterápicos.produzidos de forma agroecológica.
Participaram da Feira alguns representantes de empreendimentos solidários, a exemplo do Grupo de Agricultores do Quilombo dos Rufinos, de Pombal e Comunidade Quilombola Urbana de Serra do Talhado, em Santa Luzia, com produção de arte e barro; Comunidade Quilombola Aracati/ Chã com produção de doces caseiros, farinha e fubá de milho, em Cacimbas; artesãos de Patos; artesãs de Serra Feia; Associação dos Agricultores de Santana dos Garrotes com a produção de arroz vermelho; Comunidade Lagoa de São João com a produção agroecológica da mandioca; Casa da Economia Solidária de Soledade; O Candeeiro com as Sementes da Paixão; Grupo de Artesanato em Barro e Associação das Louceiras de Maturéia; Produtores de queijo de cabra artesanal do Assentamento Nova Conquista; Produtores de Queijo de São José de Piranhas; Produtores de Pimenta de Quixaba, Jardim Sertanejo com exposição cactos e suculentas; o assentamento poços de Teixeira, Comunidade Quilombola Pitombeira em Várzea; Fonte do Sabor de Pombal; Associação de Feirantes de Agricultura Familiar de Patos e Agricultores Familiar de Cacimbas.
O Viveiro Jardim Sertanejo, localizado no Assentamento Patativa do Assaré, em Santa Gertrudes, é uma proposta política pedagógica de convivência com o semiárido brasileiro, que constitui-se como um espaço de experimentação, pesquisa e troca de experiência. De acordo com Eduardo Rabay, a proposta surgiu a partir de uma pequena coleção de plantas de regiões áridas e semiáridas, nativas e exóticas, com diversos usos (ornamental, silvícola, forrageio, medicinal), e da possibilidade de geração de renda da unidade familiar.
José Gedeão Rodrigues dos Santos, produtor do Assentamento Nova Conquista, vem desenvolvendo uma experiência com cabra de leite e produção de queijo artesanal a partir do leite de cabra, ressaltou que “a feira é um evento muito importante para divulgação do trabalho que vem sendo desenvolvido por nós, e para a divulgação da importância da caprinocultura para o semiárido brasileiro”.
José Nilson da Silva, expôs o artesanato em barro produzido por artesãos da comunidade quilombola Os Rufinos e, difundiu uma autêntica expressão da cultura local e as raízes de um povo. Nilson disse que a feira é uma oportunidade de divulgar as tradições e práticas culturais dos remanescentes quilombolas e impelir a (re)construção de olhares sobre a história e a vida cotidiana destes povos.
Durante a feira foi realizado o 1º Fórum de Discussão sobre experiências e desafios da economia solidária. Os representantes convidados abriram a sessão solene ressaltando a economia solidária e o seu valor em face da conjuntura de recessão econômica e social que afeta o país, e discorreram sobre a importância da economia solidária na promoção da concordância social e os desafios do associativismo no Brasil.
Para o debate foram convidados Adriano Homero Vital Pereira, Diretor do CCEA; Stella Pereira, representante da Secretaria de Desenvolvimento Humano da Paraíba; a professora Mônica Tejo Cavalcanti, representante da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e da Incubadora de Agronegócios das Cooperativas, Organizações Comunitárias, Associações e Assentamentos Rurais do Semiárido da Paraíba (IACOC); e Jailson Lopes da Penha, engenheiro agrônomo representante da Emater Regional das Espinharas.
O professor Irenaldo Pereira abriu as atividades do Fórum. Na pauta do debate, tiveram destaque os desafios institucionais da economia solidária, a exemplo do papel do Estado na construção de políticas públicas voltadas para a economia solidária; a expansão das organizações socioeconômicas que promovam a cooperação entre trabalhadores ou produtores autônomos e familiares; e análise dos instrumentos públicos de apoio e reconhecimento das iniciativas populares solidárias no fortalecimento organizativo para sua consolidação como inovadora e potencial alternativa de inclusão social.
A professora Mônica Tejo Cavalcanti, coordenadora do Programa de Estudos e Ações para o Semiárido (PEASA), falou sobre o PEASA e o projeto Incubadora de Agronegócios das Cooperativas, Organizações Comunitárias, Associações e Assentamentos Rurais do Semiárido da Paraíba (IACOC), projeto que visa apoiar os empreendimentos à distância, estimulando a agregação de valor na agricultura familiar da região semiárida da Paraíba e tem por objetivo oferecer suporte pra alavancar o potencial e promover empreendimentos no meio rural.
Mônica falou sobre extensão convencional e tecnológica, e os desafios enfrentados dentro das instituições na contribuição com o avanço do desenvolvimento capaz de promover e apoiar estratégias que levem sustentabilidade socioeconômica e ambiental no meio rural, diante disso a incubadora destaca-se como importante estratégia de gestão com vistas a acelerar o crescimento econômico do empreendimento.
O professor Adriano, diretor do CCEA, arguiu sobre as experiências da UEPB e destacou que “a universidade, por estar enraizada no espírito de desenvolvimento do Estado da Paraíba, não poderia ficar alheia aos processos de organização social dos trabalhadores paraibanos, nesse sentido, com a demanda histórica do Estado, da própria universidade, e das comunidades, dois Câmpus da UEPB, um em Lagoa Seca, onde funciona o curso de Agroecologia e Agronomia, e outro em Catolé do Rocha, onde funciona o curso de Agroecologia, apresentam experiências bastante significativas do ponto de vista da UEPB como Instituição, mas principalmente da UEPB como sujeito fomentador de processos de desenvolvimento”.
“Em Catolé do Rocha, por exemplo, toda a infraestrutura de manutenção do Câmpus é realizada a partir da produção agroecológica do próprio Câmpus, e evidentemente a gente tem uma série de pesquisas sendo desenvolvidas em Catolé do Rocha e em Lagoa Seca também, e em Patos, particularmente aqui no Câmpus VII, nós temos algumas pesquisas vinculadas ao ideário de desenvolvimento regional. Em linhas gerais, a UEPB está em parte, de alguma maneira, envolvida com o desenvolvimento regional”, ressaltou Adriano.
Stella Pereira, representante do Governo do Estado e Secretaria Executiva de Segurança Alimentar e Economia Solidária, falou sobre os direcionamentos da Secretaria para construir coletivamente tudo que é feito em diálogo com a sociedade civil e Fórum Estadual de Economia Solidária. Stella arguiu sobre a criação da Secretaria e apresentou as ações e serviços desenvolvidos para as famílias que vivem em vulnerabilidade social e insegurança alimentar e nutricional e a execução de políticas públicas voltadas para a economia solidária.
O representante da Emater Regional das Espinharas, Jailson Lopes da Penha, discorreu sobre o desafio de desenvolver agroecologia no campo junto aos agricultores e chamou a atenção ainda para a necessidade de se discutir a questão fundiária na Paraíba e o acesso a políticas públicas. Jailson ressaltou que no contexto de quem vive na zona rural, um dos principais fatores para não alavancar o PIB é o distanciamento dos bens e serviços públicos. “O conjunto da ausência ou diminuição da oferta de bens e serviços públicos acarreta o êxodo e como reflexo desse processo uma diminuição da população rural. Não é sistema de produção, não é agroindústria, não é agroecologia, mas é sobretudo a ausência de serviços essenciais para o desenvolvimento humano uma das principais questões para não impulsionamento do PIB”.
Após as considerações dos participantes foi feita uma pausa e os trabalhos do Fórum retomados com a exibição o vídeo documentário intitulado “Economia Solidária: Há uma diversidade de experiências, mas o espírito solidário é o mesmo”, constituído a partir do mapeamento que está sendo feito no médio sertão para detectar, a partir da identificação de experiência, qual o perfil dos grupos de economia solidária.
Após a exibição do documentário a discussão foi pautada nos relatos de experiências dos empreendedores solidários e os desafios enfrentados por eles. Renaly Benício, assessora de comunicação da Organização Não Governamental Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS), entidade que trabalha a temática da convivência com o semiárido com o intuito de promover ações que contribuem para o aprimoramento e crescimento do meio rural com o objetivo de proporcionar a qualidade de vida do moradores que vivem nessa região.
Renaly falou sobre os fundos rotativos solidários em Teixeira como uma grande oportunidade para o desenvolvimento comunitário e destacou o trabalho das organizações sociais como a Caritas e Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS), que através do seu trabalho fortalecem a dinâmica dos fundos rotativos.
Cidoval fez uma síntese do que foi discutido durante o fórum e arguiu sobre os desafios para a economia solidária. O professor ressaltou “nós continuamos com o mesmo desafio histórico que é a prevalência ainda do conflito entre a competição e a cooperação. A experimentação comunitária ainda é muito complicada e nós vamos ter que trabalhar bastante para que isso venha a ser resolvido”.
“Nós experimentamos muito fortemente a contradição de estarmos dentro do capitalismo, fazendo oposição ao próprio capitalismo. Pra mim a tarefa da economia solidária é forjar, provocar a exposição das contradições internas do capital, e a principal contradição interna do capital é a produção coletiva e apropriação privada, uma contradição histórica”, destacou o professor.
A exposição dialogada de esperanças e utopias encerrou as atividades do Fórum. Cidoval finalizou dizendo que “a nossa utopia deve ser de menos espera e mais esperançar, muito diferente de espera, pois espera é passiva, esperançar é construir acreditando que vem, botar o olho no caminho para enxergar ao menos o horizonte”, ressaltou o professor.
Simultaneamente a realização do Fórum de discussão, a quadra de esportes foi palco de atividades artísticas e culturais. O encerramento do evento aconteceu a noite, na quadra de esportes do Câmpus VII, com apresentação da Junina Explosão Patoense e trio de forró pé-de-serra Amigos do Forró.
José Emanuel Laurentino Diniz, aluno do curso de Administração, questionado sobre a importância do evento disse que “a feira é um evento ímpar dentro da universidade, pois desperta nos alunos e participantes o senso crítico e a universalização dos conhecimentos além das práticas que levam o entendimento da economia solidária e o papel dos empreendimentos de negócio”.
“Além da oportunidade de captação de recursos por parte dos agricultores familiares, artesãos e demais empreendedores solidários, o cultivo solidário nos faz enxergar a grandeza do território nordestino e vislumbrar o mundo de maneira mais igualitária”, concluiu Emanuel.
Texto: Tatiany Escarião