Curso sobre o Golpe de 2016 tem início no Câmpus VII com palestra sobre a Cultura Política Brasileira
Cumprindo o seu papel histórico-social de produção e difusão do conhecimento, e de possibilitar um campo de reflexão para a construção do pensamento crítico acerca da realidade socioeconômica e política brasileira, articulando saberes teóricos, por meio da valorização da pesquisa científica e do posicionamento em relação aos problemas sociais, econômicos, políticos e culturais, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através do Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas (CCEA), deu início nesta segunda-feira (19) ao curso “O Golpe de 2016 e o Futuro da Democracia Brasileira”. O evento aconteceu no auditório Celso Furtado, no Câmpus VII, em Patos.
Debruçado sob a análise crítica das políticas públicas e do sistema político brasileiro, o curso tem como objetivo discutir a ruptura democrática ocorrida no país e a sistemática violação aos direitos constitucionais, além de perquirir o reestabelecimento do Estado de direito e da democracia no Brasil, propiciando a compreensão, de forma interdisciplinar, dos principais temas e conflitos da contemporaneidade em perspectivas históricas, relacionando tal compreensão aos aspectos de nossa realidade.
A solenidade de abertura oficial do curso contou com a presença do professor Antonio Guedes Rangel Júnior, reitor da Universidade Estadual da Paraíba; professor Adriano Homero, diretor do Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas; Odilon Avelino, diretor adjunto do CCEA; Cidoval Morais de Sousa, coordenador do curso; e Luciano Albino, pró-reitor de Planejamento e professor do programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional.
O Coordenador do Curso, professor Cidoval, saudou a todos os presentes e abriu a sessão solene fazendo uma exposição do tema e do conteúdo programático do curso e arguiu sobre o momento político que estamos experimentando na atual conjuntura do país, instigando uma leitura crítica e consistente dos fatos sobre a qual várias ciências humanas e sociais tem se debruçado e a reflexão sobre qual cenário se desenha para o futuro.
Adriano Homero, diretor do Centro, se disse honrado pelo Câmpus VII poder sediar o curso que transcende qualquer perspectiva ideológica, mas que procura examinar e discutir prioritariamente o processo e a construção do futuro da democracia brasileira. “Vivemos em um momento bastante sintomático de agressão as instituições democráticas do Brasil, e o curso tem o propósito de não levantar bandeiras ideológicas, mas fazer uma reflexão séria, pautada em padrões e metodologia científica rigorosa e empreender uma análise histórica do processo democrático do Brasil. Que essa reflexão consiga produzir uma ideia suficientemente crítica para desenvolver a capacitação política dos cidadãos e que estes possam se posicionar, resultando numa práxis concreta de transformação que possa, de alguma maneira, contribuir para a recuperação da nossa democracia”, disse.
Partindo de uma perspectiva histórica, o reitor da UEPB, professor Rangel arguiu sobre a natureza do curso e reportou-se ao nascimento das universidades enquanto um espaço de construção e preservação dos saberes, revelando o sentido de pertencimento social que possui por dar caráter de universalidade ao saber e ao agir do ser social, permitindo que qualquer pessoa, de forma livre, pudesse pensar sobre a realidade.
“Este, sem dúvida nenhuma, representa o espaço que remonta ao nascimento das universidades, quando era efetivamente proibido pensar em qualquer lugar que não fossem as escolas regidas pela igreja, e as universidades nasceram na história da humanidade como uma tentativa de quebrar essas amarras, e permitir que qualquer pessoa pudesse pensar, de forma livre, sobre a realidade. A ideia central que dá sustentação a existência de uma universidade é a sua capacidade de ser nele autônomo, para de forma livre, ao ponto de independente, pesquisar a realidade, buscar encontrar respostas para cada um e para todos os problemas que por ventura a humanidade se defronte com eles e, na construção dessas respostas, ajudar na transformação consciente e organizada da sociedade e do mundo como um todo, este é o papel inesgotável da universidade, e se a universidade deixar de fazer isso, deixará de cumprir o seu essencial papel, que dá sentido a sua existência”, destacou o reitor.
“Ao tomar a iniciativa de realizar este curso, eu entendo que a Universidade está buscando cumprir com o que é uma das determinações maiores do sentido da sua existência, está é uma das razões de eu estar presente aqui para afirmar que nós continuaremos lutando, em todas as esferas, para que as universidades brasileiras possam gozar de fato de autonomia” e finalizou dizendo “estamos e estaremos sempre a postos para garantir que a liberdade prevaleça no âmbito não somente da UEPB, mas no âmbito de toda extensão territorial do país”, acrescentou Rangel.
As atividades do evento tiveram início com a palestra Cultura Política Brasileira: Golpe, um “eterno retorno”?, ministrada pelo professor Luciano Albino que, em sua apresentação, descreveu os fundamentos básicos da teoria política e fez uma leitura da cultura politica brasileira e o processo de construção da democracia no país, fazendo algumas observações sobre a formação do ideal democrático ao longo do tempo, os sentidos do conceito de democracia, assim como o contraste entre a democracia ideal e a consolidação da prática democrática, seus dilemas e dificuldades.
Em seu discurso, o professor destacou que a história brasileira é marcada por rupturas na consolidação do país em bases democráticas. “Este momento que estamos passando não é acidental, ele não é algo que aconteceu por acaso, quando analisamos a formação brasileira, do ponto de vista político, notamos que temos momentos democráticos, e que a democracia no Brasil é muito mais de experiências curtas do que de uma formação democrática de longo prazo, de tal maneira que temos mais experiência do que propriamente a consolidação do país em bases democráticas, em resumo, em se tratando de Brasil, a democracia nunca é algo garantido, se no mundo como um todo não é, aqui muito menos”, afirmou o professor.
Luciano arguiu ainda sobre o autoritarismo inerente à formação social, ainda constante no quadro histórico atual do país, e a condição da cidadania popular, numa perspectiva do domínio público, que continuamente incumbiu à hegemonia da unidade territorial em detrimento as necessidades da população. Após a exposição geral sobre o tema finalização da palestra, os participantes puderam realizar um debate acerca dos conceitos expostos e discutir questões pertinentes ao tema abordado na aula inaugural do curso e foi disponibilizado aos participantes a programação das aulas e a indicação de leituras para os próximos encontros.
As aulas do curso “O Golpe de 2016 e o Futuro da Democracia no Brasil” acontecerão sempre as segundas-feiras, das 14h às 17h, no auditório Celso Furtado no Câmpus VII da UEPB, em Patos, e para tanto foram articulados e mobilizados pesquisadores de história, ciência política, direito, sociologia, economia política, administração pública.
O curso conta com a colaboração dos professores Antonio Guedes Rangel Junior; Adriano Homero; Luciano Albino; Gilbergues Santos Soares; Luciano do Nascimento Silva; Hipólito de Sousa Lucena; Hermano Nepomuceno (UFCG); Valmir Pereira; Geraldo Medeiros; Ivo Theis (FURB – SC); Carlos Brandão (UFRJ); João Morais de Sousa (UFRPE); Jessé Souza (UFABC), além de dois colaboradores internacionais Pedro Andrade, de Portugal; e José Esteban Castro, da Argentina.
Sobre os conteúdos abordados no curso, o professor Cidoval Morais apontou que além dos conteúdos em conformidade com a ementa que resume o conteúdo conceitual, que perfila à proposta do professor Luís Felipe, da Universidade de Brasília (UnB), serão incluídas três importantes questões ao programa que são o balanço das repercussões internacionais em vários setores; o debate sobre o golpe e as políticas de desenvolvimento regional/ local/ territorial e urbanas; e o debate acerca das políticas públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Texto e fotos: Tatiany Escarião
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