Professor do Departamento de Química é selecionado para semifinal de desafio internacional sobre sustentabilidade

20 de novembro de 2017

Se selecionar o lixo, reciclá-lo e tratar corretamente os recursos naturais ainda é um desafio para a maior parte dos brasileiros, pensar em uma estratégia que utilize rejeitos para tratar problemas ambientais é uma ideia que parece inviável, certo? Errado. Para o professor Rodrigo de Oliveira, do Departamento de Química do Câmpus I da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), esta ideia não é apenas viável, como já está em fase de testes de laboratório.

Trabalhando com essa proposta, o professor Rodrigo está concorrendo a uma das mais importantes premiações internacionais na área de sustentabilidade. No último final de semana, o docente recebeu da organização do “Desafio Elsevier sobre Química Verde e Sustentável” (Elsevier Foundation Green and Sustainable Chemistry Challenge), empresa global de análise de informação especializada em ciência e saúde baseada na Holanda, a informação de que o seu projeto, “Usando rejeitos para limpar a água: nanoespumas funcionais de poliestireno”, fora classificado para a semifinal do prêmio, junto a outros 49 semifinalistas de todo o mundo.

Entre centenas de candidatos, o projeto do professor Rodrigo foi um dos poucos oriundos do Brasil a ser classificado no desafio, o que pode ser justificado por suas propostas práticas e pretensões de sustentabilidade, diante de um cenário de poluição crescente no mundo inteiro. O trabalho tem como foco a utilização do rejeito de poliestireno (um dos plásticos mais usados mundialmente na confecção de isopor, embalagens, revestimentos e insumos de isolamento) para fazer materiais porosos (espumas) que serão utilizados no tratamento da água.

Quando se fala em “rejeito”, trata-se de um resíduo sólido que não serve para mais nada, ou seja, que para ele já foram esgotadas todas as possibilidades de reaproveitamento ou reciclagem, tendo como destino apenas um aterro sanitário ou a incineração. A tudo isso, soma-se a estimativa de que apenas 1% do poliestireno fabricado no mundo (uma exorbitante produção anual de 11 bilhões de quilogramas) seja realmente reutilizado.

“Hoje as grandes indústrias globais estão lutando para aumentar essa taxa de reciclagem do poliestireno para 25%. Enquanto isso não acontece, detritos estão sendo continuamente lançados no meio ambiente e estando na água liberam contaminantes químicos para os moluscos e, consequentemente, para os peixes e para os humanos”, explicou Rodrigo de Oliveira, ressaltando que a funcionalidade de seu projeto consiste em colocar nanopartículas na espuma de poliestireno, para que estas funcionem como catalisadoras na degradação de poluentes.

A pesquisa ainda está em fase de laboratório, onde estão sendo checadas todas as possibilidades de utilização do material e de aplicação em maior escala, possivelmente para utilização por comunidades locais, em cisternas e filtros residenciais.

Ciência e tecnologia da UEPB para o mundo

O projeto “Usando rejeitos para limpar a água: nanoespumas funcionais de poliestireno” surgiu de uma cooperação entre o Grupo de Pesquisa “Físico-Química de Materiais”, coordenado pelo professor Rodrigo na UEPB, e o grupo de estudos do professor Julian Eastoe, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, onde Rodrigo trabalhou durante o doutorado “sanduíche”, em 2011. Lá, ele aprendeu utilizar técnicas de separação de fases em materiais porosos, induzida por temperaturas, que foram aplicadas nos estudos de seu grupo.

A colaboração trazida de Bristol para a UEPB já resultou no desenvolvimento de duas dissertações de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências e Tecnologia Ambiental (PPGCTA) e também em pesquisas que estão sendo tendo continuidade no Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ).

Sendo a Elsevier um canal que auxilia instituições e profissionais a progredir na ciência, avançar em estudos sobre cuidados de saúde e melhorar o desempenho das pesquisas, o professor enxergou no último edital lançado pelo Desafio Elsevier uma oportunidade de inscrever seu trabalho e arriscar a robusta premiação: 50 mil euros para o primeiro colocado ou 25 mil euros para o segundo, com a finalidade de financiar suas pesquisas.

Ser o vencedor não é algo impossível. No edital lançado em 2016 um brasileiro, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), conquistou o primeiro lugar entre mais de 680 participantes. Isso mostra que uma universidade que foge do eixo Sul/Sudeste (considerado por muitos como cientificamente mais tradicional) mostrou-se capaz de obter a premiação internacional e incentivar muitos pesquisadores a se lançarem em busca de tal conquista.

Mesmo que não fique entre os cinco finalistas a participarem da etapa final na Alemanha, Rodrigo considera que já foi muito longe. “Do jeito que Brasil está, sem financiamento, temos que buscar apoio em todas as oportunidades que surgirem, inclusive em editais internacionais. Independente do lugar onde se esteja trabalhando, com interesse e o mínimo de apoio é possível fazer algo de impacto, ainda que esteja fora dos grandes centros acadêmicos”, disse.

Ele acrescenta que toda ação que promova o nome da UEPB no ambiente acadêmico internacional é muito bem-vinda. “Sempre que tivermos a oportunidade, devemos pensar o futuro da Universidade no sentido de expandi-la para a área de Ciência e Tecnologia. Isso ocorre com vários cursos e eu também tento dar a minha contribuição”, concluiu.

Caso seja um dos finalistas, ele concorrerá à última etapa do “Elsevier Challenge” em maio de 2018, em Berlim. A lista completa dos classificados pode ser acessada através do link
http://www.elsevierfoundation.org/programs/research-in-developing-countries/greenchem/2018-top-proposals/.

 

Texto: Giuliana Rodrigues

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