Sexta etapa do Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Oito Baixos é realizada em Guarabira

27 de abril de 2017

O Campus III da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), situado em Guarabira, recebeu na última terça-feira (25), a sexta etapa do Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Oito Baixos, evento realizado por meio da Pró-Reitoria de Cultura (Procult). Na oportunidade, houve a inscrição de 15 sanfoneiros, que se juntaram a uma plateia composta por professores, alunos, funcionários do Campus e a comunidade em geral.

O Encontro aconteceu no auditório, nos períodos da tarde e da noite, e contou com a presença da diretora adjunta do Campus III, professora Ivanildes Fonseca, também representando o diretor do Centro, Waldeci Ferreira Chagas, com os coordenadores locais Baltazar Filho e Simone Bezerrill, e com o secretário de Cultura da Prefeitura de Guarabira, Percinaldo Toscano, além do pró-reitor de Cultura, professor José Cristóvão de Andrade, e do pró-reitor adjunto de Cultura, professor José Benjamim Pereira Filho. O evento também teve a participação do coordenador local do Encontro em Araruna, o poeta Lino Sapo, do promotor de eventos da Procult, Alberto Alves, e do diretor do Grupo de Tradições Populares Acauã da Serra, Agnaldo Barbosa.

Antes da composição da mesa, o embolador de coco Canário do Império fez uma apresentação tendo como cerne o cordel “Aline e Josias”, de autoria do poeta Zé do Figo. Ainda pouco conhecido em Campina Grande, o bardo de 83 anos detém uma vasta obra. Em seguida, o embolador Fredi Guimarães juntou-se a Canário do Império, num espetáculo que privilegiou o bom humor e o verso feito na hora.

A abertura do Encontro foi iniciada pelo pró-reitor de Cultura. Em sua fala, José Cristóvão de Andrade destacou o difícil contexto político vivenciado no país e também na UEPB e se solidarizou aos professores e funcionários em greve, assim como aos alunos que estão ocupando o Câmpus em Guarabira. “Mesmo inseridos nesse momento adverso, continuamos elevando a cultura popular e convidando todos a se irmanarem nessa ideia. Do mesmo modo que é uma necessidade buscarmos nossos direitos, é uma necessidade dar a nossa contribuição para que a cultura popular seja valorizada. O movimento tem nosso apoio, respeito e solidariedade”, disse.

O pró-reitor adjunto de Cultura ressaltou que o Encontro também se configura como uma oportunidade para que os profissionais da sanfona possam conversar, se alinhar e se organizar. “Deveriam ter uma ocasião assim regularmente, o que propiciaria inclusive mais aprendizado entre eles, essa troca de experiências. Infelizmente vivemos em um país que não respeita a cultura e o que sabemos é que, no caso dos sanfoneiros, a maioria utiliza sua habilidade como um ‘bico’, pois não recebe a contrapartida justa pelo seu talento. Tanto a Cultura como a Educação são desprezadas no Brasil, são marginalizadas, precisamos reagir”, destacou o professor Benjamim, também asseverando seu apoio à greve na UEPB.A diretora adjunta do Câmpus III externou sua satisfação por receber o Encontro. “É preciso fortalecer a Cultura Popular, pois a Arte tem poder. Muitas estruturas já foram derrubadas com a música e a dança, especialmente os negros, como eu, sabem disso. O Campus III se enfileira à Procult para homenagear esses profissionais que têm o poder de transformação nas mãos”, afirmou.

Já o secretário de Cultura explanou em sua fala, que, por meio do Encontro, a UEPB abre uma grande e nova porta à comunidade e aos talentos da Paraíba, incentivando-os e oportunizando uma interação mais próxima. “O evento é inédito por dar uma nova perspectiva a estes artistas e também ao público. A Academia não pode se manter distante, engessada. Óbvio que a Ciência é importante, mas a Cultura necessita ser equiparada a ela dentro da Universidade”, detalhou.

Aula Espetáculo com Luizinho Calixto e apresentações

Um dos pontos altos da programação do Encontro foi a Aula Espetáculo com o mestre da sanfona de oito baixos, professor Luizinho Calixto. Em sua preleção, o músico fez uma abordagem geral acerca do instrumento, discorreu acerca do método que criou para o aprendizado do fole de oito baixos e relatou algumas experiências, a exemplo de quando ganhou uma sanfona de Luiz Gonzaga.

Emocionado, Luizinho contou que se concentrava no aprendizado do fole de oito baixos, mas que ‘arranhava’ a sanfona. Certa feita, Luiz Gonzaga o viu tocar e o aconselhou a não parar, a aprimorar também a prática na sanfona. Luizinho respondeu que ainda não tinha condições de comprar o instrumento e Luiz Gonzaga prometeu presentear-lhe com uma.

Tempos depois, quando Luizinho visitou o Rei do Baião, já bastante doente [o artista tinha câncer e veio a falecer em 1989], Luiz Gonzaga lhe pediu que tocasse uma música de sua predileção. Luizinho escolheu “A Sorte é Cega”, de autoria do próprio Luiz Gonzaga. “No início parecia que ele não estava reconhecendo a música, mas logo depois começou a chorar. Ele me mostrou uma caixa que estava no chão e pediu que eu abrisse. Era uma sanfona, o presente prometido. Perguntei como poderia agradecer e ele respondeu que quando chegasse em casa, rezasse um Pai Nosso e uma Ave Maria”, contou Luizinho, emocionado. Atualmente o instrumento está em exposição no Museu Luiz Gonzaga, na cidade natal do artista, em Exú (PE).

 

Durante a aula espetáculo, os músicos da comitiva da Procult, Erivan Ferreira, Sandrinho Dupan, Fredi Guimarães e Canário do Império se apresentaram junto com Luizinho Calixto e os sanfoneiros inscritos, que exibiram sucessos tradicionais do cancioneiro forrozeiro e também composições próprias. Mais tarde, a festa prosseguiu na pracinha do Campus III. Animado, boa parte do público dançou ao som do autêntico pé de serra.

Família Sanfoneira

A sexta etapa do Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Oito Baixos contou com a participação da Família Barbosa de Lima, bastante conhecida nas redondezas por ser uma verdadeira “fábrica de sanfoneiros”. Advém dela ao menos 13 instrumentistas da sanfona, tendo o senhor Geraldo Barbosa de Lima, de 57 anos, que também toca fole de oito baixos, como um dos mais antigos no ofício.

“Sanfoneiros são guerreiros. É muito difícil conseguir sobreviver da música. Eu mesmo sou motorista da prefeitura, mas a sanfona está no sangue e sempre que tenho oportunidade me apresento”, disse. Geraldo contou que em 1978 encontrou Luizinho Calixto se apresentando em um clube no Rio de Janeiro (RJ), com o fole de oito baixos. “Fiquei impressionado e depois dali decidi aprender. Tenho cinco discos dele em vinil”, explicou. Atualmente, Geraldo integra o espetáculo da Quadrilha de Ouro, proveniente de Jacaraú (PB). Também anima todo tipo de festas com a sanfona, a exemplo de casamentos e aniversários.

O sobrinho dele, Éricles Barbosa Alves de Lima, 20, segue a, digamos, genética musical. “Ainda estou começando, mas meu desejo é continuar na profissão. Sei que essa escolha envolve obstáculos que nem sempre são comuns aos outros trabalhos, mas é o que quero fazer e tenho me dedicado muito. Temos a ideia de futuramente gravar um CD com todos da família tocando”, concluiu.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Simone Bezerrill e Natália de Barros Oliveira