Dia Nacional da Consciência Negra pauta atividades no Campus III e sessão especial na Câmara de Guarabira
Respeito à diversidade, justiça social e igualdade de direitos. Esses foram os principais tópicos que pautaram, nesta terça (20) e quarta–feira (21), as atividades acadêmicas e culturais sediadas no Campus III da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), situado em Guarabira, em alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. Trata-se de uma data, instituída pela lei 12.519/2011, que imprime um histórico de lutas e reflexões sobre as permanentes condições de desigualdades raciais no Brasil, embora o fim do processo de escravização já tenha completado 130 anos.
A realização da “Semana de Consciência Negra” e da “Exposição Pedagógica de Cultura Indígena e Afrodescendente” foi uma idealização do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiras e Indígenas (NEABÍ- UEPB/CH), coordenado pelos professores Waldeci Ferreira Chagas (Departamento de História do CH) e Sheila Melo (Departamento de Pedagogia do CH), em parceria com o Projeto de Extensão Luz, Câmera e Emoção, coordenado pela professora Rita de Cássia da Rocha Cavalcante (Departamento de Pedagogia do CH). As ações também contaram com o apoio do Grupo de Estudos e Coletivo Obike Wakanda e da Escola Estadual de Ensino Fundamental Monsenhor Emiliano de Cristo, localizada Guarabira.
Com o tema “Lei 10.639/03: na luta por uma educação antirracista”, os eventos tiveram como objetivo a valorização da história dos povos africanos e da cultura afro-brasileira, demonstrando não apenas a influência negra na formação da sociedade, mas, sobretudo, a resistência e contribuição de importantes homens e mulheres dos séculos XIX e XX que dedicaram suas vidas em prol da luta pela liberdade e pelo direito à cidadania.
“Refletir sobre as condições da população negra no nosso país deve ser um exercício permanente. Em uma República, os direitos devem ser assegurados a todos os sujeitos sociais, não importando se sejam homens, mulheres, indígenas, negros ou brancos. Embora as pessoas negras estejam ocupando espaços de poder, ainda são exceções”, relatou o professor Waldeci, que também destacou: “A sociedade brasileira deve se conscientizar dos direitos dos povos negros. O combate ao racismo e ao preconceito necessita que as pessoas se abram para o diálogo com o outro. Assim, as diferenças se tornarão portas de entrada para a tolerância e o respeito à diversidade”.
Os debates em torno das problemáticas que norteiam a realidade das pessoas negras no Brasil (que estão entre os maiores índices de pobreza, violência, assassinatos e discriminação, precariedades que se agravam quando se tratam de mulheres negras) foram propostos através de uma programação que incluiu exibição de filmes e curtas, exposição de objetos pedagógicos, apresentação de pesquisas científicas, além da realização de feira de produtos orgânicos. Para a professora Rita Rocha, “a parceria estabelecida com o NEABÍ/UEPB-CH possibilitou abordar temáticas relacionadas à educação antirracista, por meio da apresentação de produções fílmicas que abordam questões de grande relevância para se refletir e discutir peculiaridades que estão presentes no dia a dia daqueles que vivem nas periferias dos centros urbanos”.
Sessão especial na Câmara de Guarabira
Atendendo à solicitação da Direção do Centro de Humanidades (CH), a Câmara de Vereadores do município de Guarabira, por meio de propositura de sua presidente, a vereadora Neide de Teotônio, realizou, na tarde dessa terça-feira (20), uma sessão especial para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra.
O plenário da Casa Osório de Aquino foi composto por representantes de setores artísticos, educacionais e religiosos. Dentre os convidados, estavam: a professora Ivonildes da Silva Fonseca, diretora do CH; o maestro José Carlos; o educador social Israel Santos; a estudante do Câmpus III da UEPB, Maria do Carmo, que, na ocasião, representou o NEABI/UEPB-CH; o professor Vicente Fagner, coordenador do Comitê de Consciência Negra da Escola Estadual de Ensino Fundamental Monsenhor Emiliano de Cristo; a educadora France Nunes; a ialorixá Joseane Soares (Mãe Jô); e o babalorixá Caio César.
As reivindicações em torno da visibilidade e do desenvolvimento de políticas públicas voltadas às comunidades de etnia africana permearam todas as falas dos que usaram a tribuna da referida casa legislativa para discorrer sobre o tema em foco. Para a ialorixá Joseane Soares, por exemplo, é fundamental que haja uma iniciativa institucional que objetive o mapeamento de terreiros em Guarabira, para que ações positivas possam ser traçadas visando proteger e assegurar a manutenção de práticas tradicionais da cultura religiosa africana.
A diretora do Centro de Humanidades agradeceu o espaço concedido pela câmara legislativa, ressaltando que a atitude muito contribui para o alargamento do debate sobre as condições sociopolíticas da população negra. Ao discorrer sobre o fato de que o Brasil vivenciou mais de 300 anos de escravização, a professora Ivonildes frisou que esse processo exploratório deixou marcas profundas, culminando numa série de problemas sociais para os povos de origem africana. Diante do exposto, a docente declarou: “Gostaria que os poderes institucionalizados olhassem com mais carinho e compromisso para a população negra que vive em suas cidades, pois a pobreza tem cor e é preciso fazer algo para mudar essa realidade tão cruel”.
Em discurso, a vereadora Neide de Teotônio ressaltou a relevância da realização de uma sessão que traz como pauta a discussão sobre uma coletividade que vive à margem da sociedade. Para ela, alguns direitos já foram conquistados, embora seja preciso avançar muito mais. A vice-diretora do CH, professora Cléoma Toscano, também prestigiou a sessão especial em virtude do Dia Nacional da Consciência Negra, além de docentes e estudantes de diferentes cursos do Campus III.
Simone Bezerrill/Ascom-CH
Fotos: Jarbelle Bezerra/Ascom da Câmara de Guarabira