Dia da consciência negra: UEPB conta com diversas atividades em Campina Grande e Guarabira alusivas à data

21 de novembro de 2022

 

Instituída em 2011, após a descoberta da data de morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é um símbolo de resistência não apenas do movimento negro no Brasil, mas um marco de luta de pessoas que, embora sejam a maioria no país, ainda são excluídas e marginalizadas por conta da herança de um país escravocrata e preconceituoso. Na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas (NEABÍ) no Câmpus I e Câmpus III, promovem diversas atividades para celebrar a data.

Em Campina Grande, o NEABÍ realizou, nesta quinta e sexta-feira (18), na Central de Aulas Paulo Freire, exibição de filmes, mesas de diálogo, oficinas e minicursos. As atividades foram realizadas em parceria com o Centro de Educação (CEDUC) e Projeto de Extensão Educa(ação) das juventudes. Já em Guarabira, o Núcleo promove, de 22 a 24 de novembro, palestras, exibições de filme, exposições e rodas de conversa. O evento conta com a colaboração do projeto de extensão Sextas Acadêmicas. As inscrições para as atividades devem ser realizadas via formulário eletrônico.

Identificada enquanto mulher negra e que se orgulha de suas raízes, a bibliotecária da UEPB Valéria Soares, destaca a importância do Dia da Consciência Negra enquanto marco simbólico para a população negra. “É um momento de pensarmos sobre nós, nossos avanços, lembrarmos personagens silenciados em nossa história e memória durante uma existência e reforçarmos que apesar de todos os impedimentos, nos mantivemos firmes e combatentes. O Dia da Consciência tem a ver com representatividade, com a nossa importância no mundo, com o que construímos todos os dias, apesar das adversidades que nos acompanham. Mas ainda há muito mais a lutar! Combater o racismo está na ordem do dia. Nos vermos representadas, ocupando lugares de destaque na sociedade é uma luta ainda em curso. E o Dia da Consciência Negra é pra lembrarmos que já avançamos, mas temos muito a avançar ainda”, avalia Valéria.

Para o professor de Sociologia no Câmpus VI da UEPB que se reconhece como homem negro, Adeilson da Silva Tavares, o Dia da Consciência Negra é marcado por uma história de luta e de desenvolvimento da sociedade brasileira com avanços em algumas áreas e necessidade de ressignificação em outros campos. Diante da complexidade do tema, o docente lembra que a questão étnica e racial no Brasil deve envolver toda a sociedade num diálogo permanente.

“Eu avalio que avanços ocorreram durante as últimas décadas na sociedade brasileira, mas ainda há muito que se fazer para tratar o tema racial no país. Eu acho que o Estado em certa medida assumiu essa questão, quando, por exemplo, abriu a política de cotas que amplamente dá espaço para a população negra ter lugar na educação, porém, a questão que hoje nos desafia é a quebra de uma estrutura que é por vezes feita por sujeitos que são racistas nesse país. Então a gente prefere dizer que não vale apenas ser incluído, é preciso ver a manutenção da presença dessas pessoas negras e que a gente possa de fato extinguir formas tão violentas, tão desrespeitosas com a dignidade dessa população. Então, a sociedade agora deve sempre imaginar e pensar onde se escondem essas práticas de racismo no Brasil e que a gente possa estar alerta para dizer um não à volta de qualquer tipo de forma violenta e preconceituosa com os negros e negras nesse país”, evidencia Adeilson.

Com 522 anos de história, o Brasil está livre da escravidão há apenas 134 anos, e esse passado excludente e marcado por violência e discriminação ainda se faz presente nas condutas e práticas cotidianas da população. De acordo com dados do Relatório Pessoas Negras no Brasil, produzido pela Opinion Box junto ao Movimento Black Money, 60% das pessoas encarceradas no Brasil são negras. Além disso, entre os 10 milhões de jovens que abandonaram a escola durante a educação básica, 72% são negros.

Para contrapor essa realidade, a UEPB possui uma política de cotas raciais e étnicas que, desde o período 2022.1 possui uma reserva de vagas nos cursos de graduação para pessoas negras. Além destes, também são contemplados com a política de cotas estudantes oriundos de escolas públicas, indígenas, ciganos, quilombolas, população trans e pessoas com deficiência. Associado a isso, a UEPB tem implementado iniciativas de assistência estudantil visando a permanência dessa população na Universidade. Tais políticas afirmativas visam contemplar grupos que permaneceram durante décadas na invisibilidade e excluídos da educação superior.

Texto: Juliana Marques