Curso de extensão ajuda a compreender mentiras espalhadas sobre a pandemia do novo Coronavírus
Há mais de um ano, o Brasil e o mundo vêm sofrendo com a pandemia de Covid-19, causada pelo novo Coronavírus. Desde então, os danos causados não são apenas à saúde física da população, mas também à saúde mental, à economia e à política. Com o vírus, veio a entropia de informações. E para contribuir nas reflexões sobre essa questão, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), ofereceu o curso “A pandemia no plural: reconhecendo padrões de pós-verdade, falseamento e mentira sobre a Covid-19 e a infodemia”, que aborda tais fatores.
Atualmente, a PROEX possui centenas de programas e projetos cadastrados no biênio 2020-2021. São ações que promovem o diálogo entre docentes, alunos da Instituição e a sociedade civil. Interessados da comunidade externa podem usufruir de atividades e conhecimento que a universidade pode oferecer. Entre eles está o curso de extensão sobre a pandemia ministrado pelo professor do curso de História, Carlos Adriano F. de Lima, que atua no Centro de Humanidades, Câmpus III, localizado em Guarabira.
De modo geral, o objetivo do curso é discutir o problema da pandemia de Covid-19 e a infodemia, apresentando formas de reconhecer de maneira crítica as informações sobre a doença. De acordo com o docente, notícias falsas levaram à piora de doenças e à desinformação ao longo do tempo. Segundo o professor Carlos Lima, que no seu Centro está lotado na grande área “História Moderna e Contemporânea”, a ideia para o curso surgiu de vários fatores, começando com questionamentos de alunos e egressos sobre a então nova doença que começava a surgir em outros países, ainda em janeiro de 2020.
Para não ser levado por “achismos ou senso comum”, começou a compilar dúvidas e informações. Em meio a referências deficientes e desencontradas, ele obteve dados confiáveis advindos de cientistas como os biólogos Átila Iamarino e Natalia Pasternak, e o médico Nicolau Nicolelis.
A entropia é estudada por diferentes áreas do conhecimento, partindo de distintas perspectivas. Notícias falsas têm sido mais debatidas nas áreas de Comunicação e Jornalismo, mas o professor Carlos explicou que do ponto de vista conceitual, esta atividade extensionista dialoga com as Humanidades Digitais, a confluência entre História e informações digitais, além de dados relacionados a outras áreas, como Biologia, Estatística, Epidemiologia, Ciência de Dados, Economia, Saúde Pública, História da Saúde, Saúde Coletiva e Medicina.
O curso começou oferecendo 100 vagas. Porém, não só a atividade preencheu todas as vagas no mesmo dia da divulgação, como deixou uma lista de espera para a segunda turma com mais de 200 nomes. O professor ministrante informou que o perfil da turma é formado por participantes da Paraíba, em sua maioria (58%), sendo os demais da Bahia, Minas Gerais e São Paulo, mostrando a abrangência da divulgação, do interesse e da importância do tema. Há discentes da Instituição de distintos cursos e câmpus, alunos egressos e membros da comunidade não-acadêmica das mais diversas áreas do conhecimento.
Iniciado em março deste ano, o curso terá duração de 120 horas/aula. Os encontros virtuais acontecem toda quarta-feira à noite, de forma síncrona. “Tem sido uma experiência no mínimo diferente. Primeiro, por se tratar de um curso síncrono, cuja ‘presença virtual’ potencializa experiências e relatos. Relatos de morte na família ou de amigos tornam cada encontro uma forma única de encarar o tempo presente. Temos um colega, por exemplo, que numa diferença de 11 dias teve mortos pela Covid-9 o pai e a mãe. Um relato forte e emocionante que fez refletir sobre o que é falar da ausência e do luto, por exemplo”, relatou o professor Carlos.
Ele cita também outra cursista, cuja morte do pai aconteceu antes de haver a oficialização da Classificação Internacional de Doenças (CID) relativa à Covid-19, mas que hoje pressupõe-se que se tratava da doença. “Tais relatos, dentre vários em cada encontro, dialogam com questões como luto e também a subnotificação. O sentimento de solidariedade é diferente de uma experiência assíncrona, cada relato é marcado por muito respeito”, descreve o docente.
Com um assunto que gera polarizações, opiniões distintas e até pessoas que negam a doença ou sua gravidade, é quase impossível tal dilema não aparecer em uma turma tão grande. “Quanto aos negacionistas, explicamos o porquê é tão fácil e confortável entrar em negação e procurar outras pessoas que ratifiquem suas perspectivas. Apresentamos diversos elementos que levam à distorção dos dados, fatos e desinfodemia”, comentou Carlos Lima.
É possível encontrar no currículo do professor Carlos Adriano mais de 20 formações complementares envolvendo a pandemia de Covid-19, com carga horária entre 1h e 50 horas, oferecidas por diversas instituições, nacionais e internacionais, desde a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). Bem antes de ofertar ou planejar o curso, o assunto já lhe inquietava. “Mesmo só declarada oficialmente pela OMS uma pandemia em 11 de março de 2020, minha preocupação específica com a Covid-19 vinha desde janeiro, quando já recebia a designação de emergência global”, disse o professor, acrescentando informações e evidências que há anos alertavam para a iminência de algo do tipo.
Ao serem lançados, em 2020, os editais da PROEX e da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPG) para projetos de extensão e de iniciação científica, o docente submeteu suas propostas e os projetos tiveram êxito na seleção de bolsas para monitorias de extensão e para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).
Outros cursos e planejamentos
Neste primeiro semestre de 2021, além da atividade sobre Covid-19 e infodemia, o professor Carlos Lima ministra outro curso de extensão, mas bem diferente do primeiro, mostrando os diversos interesses do docente de História. “A Força em/de Star Wars (1977-2020) – Ensino de história, teoria política e filosofia a partir dos live-actions”, está com inscrições abertas até 23 de abril.
Planos para o biênio 2021/2022 envolvem cursos ou atividades extensionistas também com temas diversos, porém, seguindo o apresentado neste ano. Planejam-se análises envolvendo histórias em quadrinhos, o universo da Marvel e o personagem Coringa; além de outras reflexões sobre pandemias.
Texto; Juliana Rosas
Fotos: Reprodução Google Meet