Centro de Humanidades sedia 1º Encontro Afro-brasileiro com debates sobre memória e resistência
Tiveram início nessa quinta-feira (3), no Campus III da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), situado em Guarabira, as atividades acadêmicas referentes ao 1º Encontro Afro-Literário: memória e resistência. Com uma pauta de debates que intensifica a luta por espaços e direitos da população afro-brasileira e africana, a idealização do evento foi impulsionada por três comemorações simbólicas festejadas este ano: os 130 anos da abolição da escravidão, os 30 anos do feminismo negro no Brasil e os 15 anos de criação da Lei 10.639/03.
Trata-se de uma iniciativa dos centros acadêmicos de História e Letras do Centro de Humanidades, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiras e Indígenas (NEAB-Í UEPB/CH) e dos Coletivos Obike Wakanda e Violeta Formiga. A abertura do encontro se deu com a realização, na parte da manhã, da mesa redonda “História e literatura africana e afro-brasileira: um diálogo com a educação a partir da lei 10.639/03”, que contou com as contribuições e experiências dos docentes Waldeci Ferreira Chagas, doutor em História, sendo vinculado ao Departamento de História do CH, e Rosilda Alves Bezerra, doutora em Letras e integrante do Departamento de Letras do CH, bem como do pesquisador Ariosvalber Oliveira, mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
O professor Waldeci discorreu sobre a importância da valorização da cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar desde o ensino de base. Para ele, ainda há um déficit significativo dessa abordagem na sala de aula, evidência que pode ser verificada, segundo o docente, entre os alunos que ingressam na universidade, pelo fato de apresentarem um conhecimento limitado no que se refere aos conteúdos que têm a África como eixo-temático. “A perspectiva da educação étnico-racial possibilita aos sujeitos um aprendizado que se volta para o ensino das diversas culturas, não se restringindo à violência da imposição de um processo cultural tido como melhor ou mais adequado”, disse o docente.
No âmbito da literatura africana, a professora Rosilda, assim como o pesquisador Ariosvalber Oliveira, abordou questões relacionadas, sobretudo, à construção de identidades e gênero. O debate prosseguiu no período da tarde, com a mesa redonda “Representatividade feminina negra: uma história de lutas e ativismo”, conduzida pelas professoras Ivonildes Fonseca, doutora em Sociologia e atual diretora do Centro de Humanidades, e Sheila Gomes, mestre em Educação, além da graduada Jordana Nascimento, cuja pesquisa de conclusão de curso tratou aspectos do tema em foco.
As explanações foram marcadas por reflexões sobre a representação da mulher negra na sociedade brasileira e os estereótipos negativos que lhes são historicamente atribuídos, bem como por apontamentos que trouxeram para o debate assuntos relacionados à força e resistência feminina, em especial das mulheres negras, na luta pela sobrevivência e cidadania. Professora ativista, como ela mesma se denomina, Ivonildes Fonseca alertou para a importância do papel desempenhado pela escolaridade na construção da identidade. “É fundamental que tenhamos conhecimento de nossa história, dos processos de luta e de opressão, para que possamos nos reconhecer e assumir nosso lugar de mulher, de negra e de feminista”, frisou a docente.
Já a professora Sheila, dentre outros pontos levantados, apresentou imagens de algumas mulheres consideradas expoentes da cultura negra e símbolos de protagonismo no embate por melhores condições de vida, tais como: Luísa Mahin, Luiza Helena Bairros, Lélia Gonzales, Dandara dos Palmares, Carolina Maria de Jesus e Jarid Arraes. As memórias das resistências negras também foram tópico de discussão no turno da noite, tendo como debatedores os pesquisadores Lucian Sousa, Solange Mousinho e Danilo Santos.
O evento continua nesta sexta-feira (4), com uma programação especial, composta por minicursos e uma série de atividades culturais: dança, teatro, sarau e apresentações musicais.
Simone Bezerril/Ascom-CH
Fotos: Jarbelle Bezerra