Seminário de Saberes Arquivísticos é realizado com a participação de discentes, docentes e profissionais da Arquivologia
Um elemento que passou a ser considerado indispensável à formação arquivística por promover o olhar multifacetado diante das articulações conceituais que compõem o cenário da Arquivologia é a interdisciplinaridade, escolhida como mote para a programação do 7º Seminário de Saberes Arquivísticos e o 1º Simpósio do Grupo de Pesquisa Arquivologia e Sociedade, que tiveram início nesta quarta-feira (31) e são realizados até a sexta-feira (2) no Campus V da Universidade Estadual da Paraíba. O evento reúne mais de 180 estudantes, docentes e profissionais de Arquivologia e áreas afins.
O primeiro dia de evento contou com a discussão “Arquivos da ditadura: silenciamentos e esquecimentos, pontes investigativas para o presente”, que contou com a participação do professor da UFPB, Afonso Scocuglia, da docente da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Marcília Gama da Silva tendo o docente da UEPB Ramsés Nunes e Silva como mediador.
Na oportunidade, a professora Marcília apresentou a tese de doutorado publicada como livro “Informação, repressão e memória: a construção do estado de exceção no Brasil na perspectiva do DOPS-PE (1964-1985)”, que abordou o papel da produção, apreensão e disseminação da informação como elemento fundamental na implantação e consolidação do regime ditatorial imposto por mais de vinte anos. A docente destacou o papel do arquivo e a importância do diálogo entre a Arquivologia e a História para impedir a construção de cenários de silenciamento na sociedade brasileira.
Também foi realizada a mesa-redonda “Dos discursos da atualidade aos arquivos do futuro”, com a participação dos professores da UEPB, Eliete Correia dos Santos, Henrique França e Vancarder Brito Sousa. Marcado por reflexões e provocações aos presentes no evento, o debate foi centrado no pensamento de como os discursos da atualidade estarão arquivados, indexados e descritos no futuro.
O professor Henrique França apresentou algumas iniciativas de preservação digital de documentos, a exemplo da Rede Brasileira de Serviços de Preservação Digital – Cariniana e discutiu como é possível contribuir com essas iniciativas. Para o professor Vancarder Brito a Arquivologia está inserida no tempo e no espaço com uma responsabilidade de construção social a partir da guarda e uso da informação. “A ciência é engajada e deve oferecer uma visão de mundo, ao lado da justiça, no combate às desigualdades, denunciando o autoritarismo e as estruturas de poder. Então, esses arquivos do futuro devem resgatar o lado social do conhecimento”, avalia o docente.
A manhã desta quinta-feira (1) foi marcada pela mesa-redonda “Administração, Direito e Tecnologia da Informação: diálogos permanentes com a Arquivologia”, ministrada pelos professores da UEPB, Jaqueline Barrancos e Antônio Germano Ramalho, e mediada pelo professor Elder de Oliveira. Também foram realizadas as apresentações dos trabalhos produzidos pelos participantes relacionados ao Grupo de Trabalho 1 “Arquivo, linguagem e memória”, que contempla a Arquivologia na sua construção histórica, diversidade de abordagens e suas novas possibilidades de configurações epistemológicas no plano internacional e nacional. O Grupo de Trabalho 2 “Saberes e fazeres do campo arquivístico”, que contempla os aspectos teóricos e metodológicos da Arquivologia e seus processos, objetos, atores, interfaces e dinâmicas, está previsto para essa sexta-feira, às 10h40, no miniauditório e auditório Pioneiros.
Ainda estão programados as mesas-redondas “Diálogos intrínsecos: Ciências da Informação e Arquivologia”, com a participação da professora da UEPB, Naiany Carneiro, e do professor da UFPB, Edvaldo Fernandes, sob a mediação da professora Esmeralda Porfírio; “Publicização de trabalhos acadêmicos de Arquivologia”, tema abordado pelos professores da UEPB, Danilo Ferreira e Manuela Maia, mediados pelo professor Sânderson Dorneles e “Saberes e fazeres em Arquivologia”, a ser ministrada pela professora da UFPB, Rosa Zuleide e pela docente da UEPB, Anna Carla Queiroz, tendo como mediador o professor Josemar Henrique.
Durante os três dias de evento também estão ocorrendo os workshops “Pesquisa científica e normalização documentária”, tendo como ministrante a professora da UEPB Claudialyne Araújo, que demonstrará a importância do domínio das principais normas da ABNT enquanto instrumento de auxílio no desenvolvimento da pesquisa; “Discussões interdisciplinares entre a Arquivologia e acessibilidade: abordagens teóricas e aplicações práticas em arquivos”, que busca apresentar os aspectos legais no que se refere à construção de ambientes de informação acessíveis por meio do uso da LIBRAS em ambientes de informação hipermídia digitais, para usuários com deficiência auditiva e softwares leitores de tela e sintetizadores de voz para usuários com deficiência visual.
E o “Curso Básico de conservação preventiva em documentos bibliográficos”, a ser ministrado pelo professor da UEPB Eutrópio Bezerra, que apresentará uma introdução na área de preservação, conservação de acervos bibliográficos e informações básicas para a adoção de uma política preservacionista aliada a um conjunto de ações que visam prolongar a vida útil dos materiais, como forma de salvaguardar a memória bibliográfica e proporcionar obras íntegras e com suas características originais.
De acordo com a coordenadora geral do Seminário, professora Eliete Correia, essa iniciativa busca compreender as alterações pelas quais a Arquivologia vivencia na contemporaneidade, tanto em relação ao seu marco teórico quanto sob o aspecto metodológico e consolidar as atividades do Grupo de Pesquisa Arquivologia e Sociedade. “Em diversas realidades histórico-sociais, constatam-se alterações, especialmente, no cenário digital, nos processos, objetos, atores, interfaces e dinâmicas de Arquivologia. O fazer arquivístico exige novos patamares de produção e conhecimento científico capazes de contemplar demandas de inovação e gestão de serviços e instituições arquivísticas. O diálogo da Arquivologia com outros campos de conhecimento, em uma postura interdisciplinar, favorece o desenvolvimento científico e inovador da teoria e da prática arquivística mediante estudos do saber e fazer arquivístico. E reconhecendo esse percurso da Arquivologia, é que foi pensado esse evento”, explica.
Durante os três dias de evento estão sendo realizadas apresentações culturais com a Banda Arquipalô, formada por estudantes do curso de Arquivologia e pelo professor Henrique França. O encerramento do evento será nessa sexta-feira, 2 de setembro, com a premiação dos trabalhos e uma homenagem à professora Maria José Cordeiro.