Projetos desenvolvidos pela UEPB promovem cultura de paz e transformação da violência estrutural nas comunidades
Com uma perspectiva que une as vertentes de ensino, pesquisa e extensão, estudantes e docentes dos cursos de graduação e pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) têm atuado com projetos e intervenções que buscam disseminar a cultura de paz e a transformação da violência estrutural como caminhos para enfrentamento de violências e desigualdades sociais em comunidades.
Recentemente, diante de casos como o ataque a tiros em uma escola de São Paulo, no qual um jovem de 16 anos atingiu uma estudante a tiros, que foi morta, e feriu outras três pessoas, trabalhos como o do Grupo de Estudos de Paz e Segurança Mundial da UEPB (GEPASM) evidenciam a importância de apresentar alternativas para esse tipo de problemática a partir de bases teóricas de pensadores como Johan Galtung, Paulo Freire, John Lederach, Augusto Boal, Gandhi, que partem do entendimento que a prevenção e o enfrentamento de situações como essa só ocorrem com a construção de uma cultura de paz, é o que ressalta o professor Paulo Kuhlmann.
“Há duas formas de lidar com estes ataques às escolas: com violência e controle, ou seja, mais policiamento, mais câmeras, catracas, cercas, muros, ou, por meio do desenvolvimento de uma cultura de paz. A primeira opção não dá conta e cria mais medo e insegurança. É preciso conectar e cuidar das pessoas, pois, quando há amor e cuidado, tudo muda”, avalia o professor Paulo.
om essa perspectiva, o professor Paulo Kuhlmann tem orientado alguns estudos como as pesquisas “Jornalismo para a Paz como prática transformadora da Violência Estrutural” e “Construção da Paz por meio do arte-ativismo: uma etnografia dos exemplos comunitários no bairro Rangel”, executados, respectivamente, pelas estudantes de Relações Internacionais Giulia Mendonça e Maria Fernanda Silvestre. Essas iniciativas dialogam com as atividades do Projeto de Extensão Universidade em Ação (PUA) realizadas junto à Comunidade do Rangel com o objetivo de impactar positivamente por meio dos mútuos laços e afetos criados entre o grupo da UEPB, os integrantes do ala ursa Urso Amigo Batucada e todos que frequentam o Centro de Referência da Juventude (CRJ) do Rangel, que transformaram e possibilitaram a pesquisa.
Um dos resultados dessas ações é o documentário produzido pela estudante Giulia Mendonça sobre o Urso Amigo Batucada com o objetivo de apresentar uma nova visão a respeito das comunidades periféricas. “É necessário desmistificar muitas das imagens que são pré-concebidas no nosso imaginário, a partir de uma reflexão sobre a sociedade em que vivemos. A mudança de olhar não só desmistifica, como nos faz perceber que algumas cobranças socialmente direcionadas às comunidades devem ser feitas aos governos municipais – a exemplo disso, não devemos culpabilizar comunidades periféricas pelo surgimento de facções, crime organizado, tráfico e pela violência exacerbada em seus círculos sociais, visto que tais acontecimentos nascem da falta de política pública, de direcionamento de investimentos públicos em educação, saúde, infraestrutura, e de oportunidade de empregos. Precisamos ter mais contato com iniciativas positivas e construtivas dentro de comunidades periféricas, para que possamos quebrar esses estigmas”, evidencia Giulia.
A equipe de pesquisa e extensão da UEPB esclarece que estas ações buscam conceber as Relações Internacionais por meio da construção efetiva da paz em comunidades socialmente estigmatizadas, marginalizadas e muitas vezes desassistidas no Brasil. Dessa forma, desenvolve-se a compreensão de que os conflitos tratados nas aulas e discussões acadêmicas nascem no cenário micro, e ao não terem sua resolução e transformação efetiva, crescem, transformando-se em guerras que matam e ferem a integridade de civis, como também, desrespeitam – quase sempre – os Direitos Humanos e Humanitários, e o Direito Internacional.
Diante dessas experiências, o professor Paulo Kuhlmann foi convidado a ministrar, no dia 20 de outubro, a conferência “Justiça restaurativa e cultura de paz”, como parte da programação do Seminário “Justiça Restaurativa: Redes e Articulações na Paraíba” que reuniu na Universidade Federal da Paraíba profissionais e instituições que atuam com Justiça Restaurativa na Paraíba, especialmente nas áreas da educação e socioeducação. Na oportunidade, o docente pôde compartilhar suas experiências e estudos com foco nessa temática.
“Eu trabalho com isso há muito tempo, desde 2015. Porque percebi que precisava de ferramentas para trabalhar a violência nas escolas. E aí fomos estudar. Praticamente, todas as pessoas que estavam ali, as que trabalham há mais tempo, eu conhecia. O duro é que tudo isso deveria ser tornado política pública. Isso é que evitaria situações como os ataques armados nas escolas. Mas a violência nas escolas é muito anterior a isso. Por condições ruins de trabalho para os professores, salas inapropriadas, muita evasão escolar, por exemplo. Tudo isso acaba gerando jovens desiludidos e que começam a trabalhar muito cedo ou praticam infrações penais. Além disso, o sistema não recupera ninguém, ou muito pouco. Então a gente busca fazer as crianças e jovens pensarem em criar conexões com os amigos, a se preocuparem com as emoções e a cuidarem umas das outras, esse é nosso foco”, explica o professor Paulo.
O GEPASM o Projeto PUA reúnem graduandos, mestrandos e egressos de Relações Internacionais da UEPB e pesquisadores de Instituições parceiras para o desenvolvimento de estudos de paz (paz positiva e negativa, emancipação, prevenção de conflitos, resolução e transformação de conflitos), além do aperfeiçoamento de ferramentas preventivas de construção de paz (círculo de diálogo, emancipação por meio da arte e da cultura, dentre outras) e ferramentas de resolução e transformação de conflitos (mediação, justiça restaurativa), por meio de projetos, simulações e ações na comunidade.
Ambas as iniciativas possibilitam a integração entre os três pilares da universidade pública: a promoção de ensino de qualidade, combinada com pesquisas acadêmicas de impacto social e, a partir destes, a construção do terceiro pilar: a extensão que aproxima Universidade e sociedade possibilitando a atuação práticas de uma ciência libertadora.
Texto: Juliana Marques
Fotos: Divulgação