Projeto da UEPB realizado em João Pessoa resgata a memória e o patrimônio da Revolução de 1817

29 de outubro de 2013

 

PRAÇA 1817 - ACERVO PESSOAL ELIETE GURJÃOUm importante marco na história de João Pessoa caracterizado pela luta contra o despotismo português e a favor da proclamação um governo republicano, a Revolução de 1817 está presente na memória das praças, monumentos e placas da capital paraibana. Porém, esse capítulo histórico e cultural da Paraíba é desconhecido por grande parte da população, que ignora a importância da valorização e resgate deste patrimônio. Diante desse cenário, um projeto de extensão da Universidade Estadual da Paraíba, desenvolvido em parceria com o Ministério da Justiça, realizou diversas atividades de educação patrimonial e restauração das placas em homenagem à Revolução de 1817.

O projeto “Antes que se apague completamente: memória e patrimônio da Revolução de 1817 na Paraíba”, que é ESTACAO PATRIMONIAL 3coordenado pela professora aposentada do bacharelado em Relações Internacionais da UEPB, Eliete Gurjão, teve início em 2012 e prossegue até janeiro de 2014. A fase inicial do projeto contou com Estações Patrimoniais, realizadas em praças de João Pessoa e escolas públicas de ensino médio, com distribuição de material explicativo e palestras relativas ao patrimônio cultural local relacionado à Revolução de 1817.

De acordo com a professora Eliete “apesar de centrado na Revolução de 1817 as atividades não fizeram apologia aos personagens da história e, sim, buscaram recuperar a memória deste fato, ressignificando-o enquanto demonstração do protagonismo da Paraíba na história nacional. A meta do projeto foi contribuir para que o paraibano, em placa 1particular, e o nordestino, em geral, se apoderem de sua história e fortaleçam sua identidade”, avaliou.

Também foi realizada a restauração das placas comemorativas alusivas ao centenário da revolução que ficavam instaladas em pontos do centro histórico de João Pessoa. Algumas indicando os locais onde foram expostas cabeças e mãos de líderes da Revolução de 1817, e uma que demarca o local onde ocorreu a rendição frente às tropas imperiais. A professora Eliete destaca a importância de que, após esse trabalho de restauração, os gestores públicos assegurem a preservação desses marcos na história da cidade e do estado e a população fiscalize e cobre a manutenção deste patrimônio.

Pesquisa

A equipe envolvida no projeto realizou ainda, em julho deste ano, uma pesquisa de campo no entorno da Praça e das placas de 1817, com uma PRAÇA 1817 HJ ACERVO ELIETE GURJÃOamostra de 360 pessoas que responderam a entrevistas semiabertas, cujo objetivo foi o de traçar um diagnóstico do significado que a população de João Pessoa tem do seu patrimônio histórico-cultural, particularmente no que se refere a 1817.

Essa pesquisa demonstrou o grande desconhecimento que a população de João Pessoa tem sobre a Revolução de 1817 na Paraíba e seus lugares de memória. A maioria dos entrevistados, representada por 73% da amostra, afirmou ignorar totalmente este fato, enquanto 90% declarou ser necessária sua divulgação.

Segundo a professora Eliete um fato curioso observado nesta pesquisa é que foi demonstrada a força da memória de 1930.  “Tal confusão demonstra concretamente que a memória coletiva é uma construção social. Neste caso, a correlação de forças no contexto da sociedade paraibana dos anos trinta foi favorável ao bloco político no poder local que, associado à reformulação do Estado por Getúlio Vargas e ao culto à memória da ‘Revolução de 1930’, criou os alicerces e fortaleceu a memória desta revolução”, explicou.

Outro fato relatado pelos pesquisadores é que houve uma receptividade e entusiasmo de parte dos entrevistados que demonstraram que existem interlocutores dispostos a refletir e focar um novo olhar sobre o patrimônio cultural.  “É importante porque é história da gente. A Paraíba sempre foi muito ativa nas revoluções, agora, é pouco divulgada, enquanto a história de Pernambuco é divulgada em todo lugar, eles divulgam com o maior orgulho, é o maior orgulho ser o leão do norte, e a Paraíba tem muita história, muita coisa bonita que não é divulgada e precisa ser divulgada pra gente ter orgulho dessa Paraíba”, afirmou um dos entrevistados.

Para a professora Elite Gurjão “as falas registradas evidenciam uma relação de afeto pela cidade e, ao mesmo tempo, uma preocupação com seu patrimônio. Tais testemunhos reforçam a necessidade de ressignificar o patrimônio cultural, de modo que ele seja visto como testemunho de histórias de vida e parte integrante do processo de formação da identidade paraibana e da própria cidadania”.

A fase final do projeto será com o lançamento do paradidático “Antes que se apague: memória, patrimônio e identidade da Paraíba”, que traz um pouco dessa experiência e será distribuído em escolas públicas de todo o Estado. A publicação está em fase de impressão e deve ser lançada até dezembro deste ano.

Créditos imagens: ASCOM – UEPB/ Acervo Pessoal Eliete Gurjão