Professora Jacqueline Echeverría Barrancos será homenageada na Câmara de Vereadores com o título de cidadã pessoense

30 de novembro de 2018

“Dizem que a vida é para quem saber viver, mas, ninguém nasce pronto. A vida é para quem é corajoso o suficiente para se arriscar e humilde o bastante para aprender”! Essa frase de Clarice Lispector poderia retratar a trajetória de vida da boliviana Jacqueline Echeverría Barrancos que há mais de 30 anos desembarcava na Paraíba para desbravar o novo destino que se tornou seu novo lar. E neste dia 4 de dezembro, às 15h, no Plenário Senador Humberto Lucena da Câmara Municipal de João Pessoa, a professora Jacqueline receberá o reconhecimento por toda a trajetória na cidade de João Pessoa: o título de cidadã pessoense.

A homenagem, proposta pela vereadora Sandra Marrocos, é uma forma de reconhecimento e homenagem à docente que embora não tenha nascido em João Pessoa, adotou a cidade como morada e tem contribuído com o desenvolvimento educacional do Estado, tendo atuado em diversas instituições de nível superior e coordenado iniciativas de pesquisa e extensão que atendem à comunidade pessoense.

“Eu já passei por alguns desafios na vida e o mais recente, de assumir a direção do Campus da UEPB em João Pessoa, eu enxergo como uma forma de dar a minha contribuição, deixar minha herança para a comunidade que financia a UEPB. E nesse sentido, acho importante buscarmos aprimorar a qualidade do ensino, apresentar métricas de pesquisa, extensão, aproximar nossa produção da sociedade”, avalia a docente.

Trajetória pessoal

Natural de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, Jacqueline Echeverría Barrancos vem de uma família de três irmãos, com o pai bancário e a mãe professora (cujas nove irmãs também eram professoras). Estudou por 12 anos no tradicional Colégio Santa Ana, e cresceu inspirada pelo perfil empreendedor do irmão na área de negócios, o que a levou a investir na carreira de Administração. Em 1979, foi para Cochabamba estudar Administração na Universidad San Simón e acompanhar a irmã que fazia Bioquímica, mas, com o golpe militar de 1980, as universidades na bolívia tiveram que fechar as portas.

A partir dessa época candidatou-se a vagas em universidades brasileiras oferecidas por intermédio de um intercâmbio cultural da Bolívia com o Brasil que permitia a oferta de vagas em universidades do país para estudantes bolivianos.

“Eu não conhecia nada do Brasil. Tinha apenas a imagem boa do país do futebol, um país bom. E ouvia falar das universidades, porque os engenheiros, médicos, que chegavam na Bolívia todos tinham se formado no Brasil. Então eu queria me candidatar a uma vaga na PUC ou Unicamp, em São Paulo, porque era mais próximo da Bolívia. Mas, na primeira seleção não fui contemplada. Nessa época, morei um período em Campinas onde fiquei estudando português e tentando ingressar na universidade. Mas, em janeiro de 1982, fui aprovada para cursar administração na UFPB.Eu não conhecia a Paraíba, mas, fiquei imensamente feliz por ter sido contemplada”, relembra a professora Jacqueline.

No início de 1982, em companhia da irmã, Jacqueline desembarcou em João Pessoa, onde teve que enfrentar, nos primeiros dias, o maior desafio até então: lidar com a saudade da família. Porém, mesmo com a dificuldade de acostumar-se ao novo país, outra cultura, novos amigos, a jovem boliviana manteve-se firme no propósito de estudar e construir um novo capítulo em sua vida, e, para tanto, contou com o carinho de professores e colegas da universidade.

Ao finalizar a graduação retornou para a Bolívia, onde ingressou no Banco Central, seguindo os passos profissionais do pai. Mas, uma desilusão amorosa e o convite do então coordenador da pós-graduação em Administração da UFPB a fizeram voltar à Paraíba para cursar o mestrado em Administração. “No mestrado senti um impacto, achei difícil! Antes, na graduação, era muito carinho, muita amizade com os professores e colegas, e no mestrado eram outros professores, muitos livros para ler, um grande volume de atividades. Pensei em desistir. Aí veio o coordenador para me motivar. Também fui amadurecendo, estudando. Continuei”, recorda Jacqueline.

Em 1986, por intermédio do namorado de uma amiga boliviana, conheceu o marido. “Ele disse na época que iria casar comigo. Coisa de jovem. E eu gostei dele porque achava ele muito alegre, gostava de ir para a praia, passear, então ele foi me conquistando, tocava violão, cantava”, relembra Jacqueline. Em 1987 casou com o paraibano Carlos José de Andrade, com quem teve os dois filhos: Carlos Hernando e Scarlet Augusta, e seguiu a trajetória no mestrado, que concluiu em 1990.

Rumos profissionais: a contribuição acadêmica no Estado da Paraíba

O início da carreira acadêmica da professora Jacqueline Barrancos foi no Unipê. Em pouco tempo também foi convidada a atuar como docente na Asper. Em 2002 foi aprovada no concurso para atuar no curso de Administração do Campus I da UEPB, em Campina Grande. E em 2003 resolveu fazer o doutorado em Administração.

“Eu me achava técnica bancária era isso que queria na época, mas, fui me identificando com a carreira acadêmica. Quando soube que ia abrir o Campus da UEPB em João Pessoa eu me envolvi, procurei contribuir ao máximo na formulação do curso de Arquivologia e trabalhei muito vendo as emendas e auxiliando nessa fase inicial. Fiquei responsável por componentes curriculares de Administração do curso de Arquivologia e continuei ministrando componentes do curso de Administração do Campus I. Até que em 2006 eu aceitei o desafio de coordenar o curso e fiquei à disposição do Campus V, também fui convidada a coordenar MBA em Administração de Recursos Humanos. Em 2010 consegui meu remanejamento definitivo”, recorda Jacqueline.

A docente, que foi coordenadora do curso de Arquivologia no período da implantação do Campus V em João Pessoa acompanhou todo o processo de consolidação, busca por melhores condições estruturais e luta por um campus próprio, e em 2015 foi homenageada pelas turmas concluintes do Centro de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas tendo sido eleita a paraninfa do período 2015.1.

Em agosto de 2018, ocasião do aniversário de 12 anos do Campus V, a docente foi informada da homenagem que seria prestada pela Câmara de Vereadores de João Pessoa por propositura da vereadora Sandra Marrocos. A docente destacou a emoção de receber tal condecoração o que a fez reviver toda a trajetória ao longo dos anos na Paraíba.

“Foi uma surpresa e me emocionou porque passou pela minha cabeça todo um filme do momento que eu tive que sair da Bolívia, deixar minhas raízes e fui acolhida aqui. É uma demonstração de que meu trabalho extrapolou os muros da universidade e impactou de forma positiva as pessoas que passaram por mim. Eu me considero já uma brasileira, sou naturalizada. Eu sempre penso na minha cidade, mas, não consigo viver longe daqui, meu coração é dividido”, frisou Jacqueline.

Texto: Juliana Marques