Pesquisadores da UEPB integram projeto latino-americano que discute “uma nova normalidade” pós-pandemia
“Será que estamos vivendo do modo mais correto coletivamente? Será que a nossa injustiça de partilha da economia de bens numa sociedade está no caminho correto? Será que eu consigo lidar com isso como um momento transitório ou uma lição que a gente retoma mais adiante e reinventa nosso modo de ser?”. Os questionamentos do filósofo Mario Sérgio Cortella ilustram uma inquietude que tem povoado as mentes das pessoas em todo o mundo: qual lição deve ser tirada para o período pós-pandemia?
Precariedade no sistema de saúde mundial, crise econômica, desigualdades sociais, miséria, poluição, degradação ambiental. O vírus Sars-CoV-2 desvelou uma série de anomalias com as quais a humanidade tem convivido e que revelam a necessidade de estabelecimento de um novo marco civilizatório. Nesse sentido, um grupo de pesquisadores latino-americanos tem desenvolvido uma campanha intitulada “Uma nova normalidade” (Una nueva normalidad) que conta com a atuação efetiva de pesquisadores do Centro de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas (CCBSA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Paulo Kuhlmann, Maria Ellem Maciel, Fábio Nobre e demais integrantes do Grupo de Estudos de Paz e Segurança Mundial da Universidade Estadual da Paraíba (GEPASM/UEPB) e do Projeto Universidade em Ação (PUA), ambos vinculados aos cursos de graduação e pós-graduação em Relações Internacionais, e o professor da UFPB Marcos Alan Ferreira, membro do GEPASM, estão nesta iniciativa.
“Uma nova normalidade” é uma campanha de comunicação para a paz, impulsionada pelo Conselho Latino-americano de Investigação para a Paz (CLAIP), cuja finalidade é gerar uma corrente de opinião crítica sobre a normalidade antes do início da pandemia. Esta campanha pretende estimular o compromisso do cidadão com a construção participativa de uma nova normalidade, justa e necessária, por meio da conscientização e reflexão coletiva.
Iniciado pelo pesquisador do Instituto Universitario en Democracia, Paz y Seguridad – UNAH, de Honduras, Esteban Muslera, a campanha também conta com a participação de representantes da Revista Latinoamericana Estudios de la Paz y el Conflicto (Latinoamérica), Jóvenes Voluntari@s Universitari@s por la Paz (Honduras), Global Unity Sumak Kausay AC (México) e do Centro Internacional de Estudios sobre Democracia y Paz Social (Argentina).
Por meio desta iniciativa, o grupo pretende gerar uma corrente internacional de opinião crítica sobre a necessidade de construção coletiva de uma nova normalidade pós-pandemia, conforme destaca o pesquisador Paulo Kuhlmann, que é doutor em Ciência Política e atua há anos na área de Relações Internacionais com projetos voltados à cultura da paz e combate às desigualdades sociais.
“Pensar uma volta à normalidade é o que todos queremos, até certo ponto. Uma sociedade na qual o vírus não mais nos atormente, restrinja e amedronte. Entretanto, a Covid-19 evidenciou uma série de questões graves que já tínhamos na ‘normalidade’ em que vivíamos. O sucateamento do sistema de saúde, a falta de água e saneamento básico para grande parte da população, pessoas que passam fome num país exportador de alimentos, dentre tantos outros problemas. Num momento crítico como este, pensar o que queremos e para onde vamos é fundamental. Por isso, pensamos nesta campanha por uma nova normalidade possível, desejável e que precisamos lutar para alcançar”, resume o docente.
De acordo com a pesquisadora Maria Ellem Maciel, que é vinculada ao GEPASM, mestre em Literatura em Interculturalidade, técnica administrativa na UEPB e docente efetiva da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), atuando em temas como educação e equidade e justiça social, esse momento é decisivo para que se discutam questões necessárias à transformação do mundo em um lugar melhor para as gerações futuras.
“A presença de uma ação dessa natureza nesse momento é imprescindível à transformação de práticas sociais anteriores que contribuíram para o nível de afastamento afetivo em que nos encontramos hoje. Especificamente no Brasil, em que os governos estaduais e municipais têm enfrentado dificuldades em conscientizar a população a cumprir o isolamento, o exercício constante da empatia é o único caminho para a transformação da sociedade e esse é um dos pontos principais dessa campanha. Através da reflexão compartilhada, acredito sermos capazes de encontrar um ponto de apoio para exercermos uma função social responsável pelo presente e, principalmente, por um horizonte de esperança para novas gerações”, enfatiza a pesquisadora.
O grupo de pesquisadores que integra essa iniciativa produziu um manifesto que está disponível numa plataforma de abaixo-assinados e na página oficial da campanha (http://unanuevanormalidad.org/) na qual, entre outras questões, são apresentadas reflexões sobre temas como consumo irresponsável, desigualdade social, exclusão, relações de ódio, pobreza, precariedade dos sistemas de saúde, exploração dos bens naturais, violência, entre outras reflexões que devem ser apresentadas em uma plataforma de mobilização de pessoas.
A campanha também está sendo desenvolvida nas principais redes sociais: Twitter (https://twitter.com/normalidadnuev1?s=20), Facebook (https://www.facebook.com/Una-nueva-normalidad-104227414620171/) e Instagram (https://www.instagram.com/normalidadnueva/), utilizando o slogan “Uma nova normalidade é possível e necessária” e a hastag #UmaNovaNormalidade.
Texto: Juliana Marques