Pesquisador do CCBSA publica estudo sobre a relação entre os incêndios florestais na Amazônia e a emissão de carbono
Um ecossistema único e insubstituível, a maior floresta tropical e o sistema fluvial mais extenso do planeta, a Amazônia é considerada patrimônio mundial, primordial para o bem-estar da humanidade e a sua preservação é a preocupação de pesquisadores de todo o mundo. Recentemente, o pesquisador do curso de Ciências Biológicas do Câmpus V Cleber Ibraim Salimon, em parceria com pesquisadores de outros centros de pesquisa do Brasil e de fora do país, publicou um artigo que discute como as emissões de carbono persistem décadas após os incêndios florestais na Amazônia no periódico Environmental Research Letters.
O artigo intitulado “Estimando o déficit de carbono multi-decadal das florestas amazônicas queimadas“, revela parte significativa das emissões de CO2 que ocorrem mesmo após cessados os incêndios florestais na Amazônia. Os autores quantificaram temporalmente as emissões resultantes da mortalidade tardia de árvores e decomposição de madeira morta acumulada após os incêndios.
De acordo com o pesquisador Cleber Salimon esta publicação é fruto de pesquisas desenvolvida até pouco tempo na Amazônia. “A relevância desta pesquisa diz respeito a ampliarmos nosso conhecimento e aprimorarmos os cálculos das emissões de Carbono, uma vez que, até esta publicação, não se tinha detalhamento de quanto carbono era emitido realmente após incêndios florestais (que são diferentes de incêndios por desmatamento). Temos que refletir que a longo prazo, todo este carbono que vai para atmosfera na forma de gases, aumenta a temperatura da superfície do planeta, diminui a quantidade de chuva nos continentes – e aqui onde já é semiárido, passará a ser quase árido, com graves consequências para os habitantes da região nordeste do Brasil. O que acontece na Amazônia tem consequências globais” explica o professor Cleber Salimon.
O docente ainda evidencia a necessidade de ampliar os diálogos, fóruns e debates sobre a temática e adianta que o câmpus V da UEPB deve sediar em 2021 um evento com esta finalidade. “No primeiro semestre do ano que vem (seria agora, mas a COVID19, bagunçou tudo), haverá um seminário intitulado “Restauração ecossistêmica e adaptação às mudanças climáticas”, que conseguimos aprovar por financiamento da FAPESQ e permitirá a vinda de pesquisadores de várias partes do país e do exterior aqui para nosso Campus V para discutirmos esta questão. Este seminário terá como objetivo geral apresentar um panorama sobre temas centrais na área de restauração de ecossistemas, seus serviços prestados à humanidade e os efeitos dos impactos antropogênicos (tanto na destruição de habitats naturais, quanto nas mudanças climáticas devido a emissão de gases de efeito estufa)”, informa o professor Cléber.
Os autores estimam que, 30 anos depois dos incêndios, as emissões por decomposição equivalem a 76% das emissões totais. Isso significa que mesmo depois que os incêndios florestais na Amazônia são extintos, e as emissões por combustão cessam, ainda há uma quantidade expressiva de CO2 que continua sendo liberada para atmosfera por décadas.
Até o momento, também não se conhecia exatamente quanto dessas emissões seriam anuladas através do crescimento da floresta após os incêndios. O estudo mostrou que apenas 35% de todas as emissões de CO2 são compensadas através da regeneração parcial da floresta após o distúrbio causado pelo fogo. O que evidencia a necessidade de proteção desse bioma.
Texto: Juliana Marques