Pesquisador da Pós-graduação em Relações Internacionais da UEPB analisa conflito entre Israel e Palestina

10 de outubro de 2023

 

O docente do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e um dos coordenadores do Centro de Estudos em Política, Relações Internacionais e Religião (CEPRIR), professor Fábio Nobre, realizou uma análise do conflito entre Israel e Palestina, que segundo ele destaca é um dos mais antigos e controversos do mundo. “No fundo, é um conflito entre dois movimentos de autodeterminação – o projeto sionista judeu e o projeto nacionalista palestino – que reivindicam o mesmo território. Mas é muito mais complicado do que isso, com aparentemente todos os fatos e detalhes históricos, pequenos e grandes, pleiteados pelas duas partes e pelos seus defensores”, resume.

O pesquisador destaca que Israel é o único Estado judeu do mundo localizado a leste do Mar Mediterrâneo. Os palestinos, a população árabe oriunda da terra que Israel controla agora, referem-se ao território como Palestina e querem estabelecer um Estado com esse nome em toda ou parte da mesma terra. O conflito entre Israel e Palestina é sobre quem fica com quais terras e como elas são controladas.

“Embora tanto os judeus como os árabes muçulmanos datem as suas reivindicações sobre a terra há alguns milhares de anos, o atual conflito político começou no início do século XX. Os judeus que fugiam da perseguição na Europa queriam estabelecer uma pátria nacional no que era então um território de maioria árabe e muçulmana no Império Otomano e mais tarde no Império Britânico. Os árabes resistiram, vendo a terra como sendo deles por direito. Um plano inicial das Nações Unidas para dar a cada grupo parte da terra falhou, e Israel e as nações árabes vizinhas travaram várias guerras pelo território. As linhas atuais refletem em grande parte os resultados de duas destas guerras, uma travada em 1948 e outra em 1967”, rememora Fábio.

Professor Fábio pontua que a guerra de 1967 é particularmente importante para o conflito de hoje, pois deixou Israel no controle da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, dois territórios onde vivem grandes populações palestinas. Hoje, a Cisjordânia é nominalmente controlada pela Autoridade Palestina (AP) e está sob ocupação israelense. Gaza é controlada pelo Hamas, um partido fundamentalista islâmico, e está sob bloqueio israelense, mas não sob ocupação por tropas terrestres.

Sobre o Hamas

O Hamas é uma organização política islâmica palestina e um grupo militante que tem travado guerra contra Israel desde a fundação do grupo em 1987, principalmente através de atentados suicidas e ataques com foguetes. Procura substituir Israel por um Estado palestino. Também governa Gaza independentemente da Autoridade Palestina (AP). O Hamas é considerado um grupo terrorista por Israel e pela maior parte do mundo ocidental.

“A carta do Hamas há muito apela à destruição de Israel e foi revista em 2017 para permitir a aceitação de um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, em vez de todo o território, embora o Hamas ainda se recuse a reconhecer a legitimidade do Estado de Israel. O Hamas liderou o ataque ao uso de atentados suicidas contra Israel nas décadas de 1990 e 2000, embora nos últimos anos tenha mudado para foguetes e morteiros como armas preferidas. A organização também oferece aos palestinos uma rede robusta de serviços sociais, que desenvolveu como alternativa às instituições da AP profundamente corruptas”, pontua professor Fábio.

Em 2006, o Hamas conquistou uma ligeira maioria dos assentos nas eleições legislativas da Autoridade Palestina. Isto teria colocado o Hamas numa posição de comando tanto para a Cisjordânia como para Gaza, mas havia um problema: o Hamas recusou-se a aceitar acordos anteriores que a AP tinha feito com Israel. Isso levou as potências ocidentais a congelar a ajuda, da qual a AP depende, a qualquer AP liderada pelo Hamas. As tensões entre a Organização para a Libertação da Palestina e o Hamas acabaram por evoluir para uma guerra aberta entre as duas facções, que acabou com o Hamas a governar Gaza.

Segundo o professor Fábio, a principal abordagem para resolver o conflito hoje é a chamada “solução de dois Estados” que estabeleceria a Palestina como um Estado independente em Gaza e na maior parte da Cisjordânia, deixando o resto do território para Israel. Embora o plano de dois Estados seja claro na teoria, os dois lados ainda estão profundamente divididos sobre como fazê-lo funcionar na prática. A maioria dos observadores pensa que isto causaria mais problemas do que resolveria, mas este resultado está se tornando mais provável ao longo do tempo por razões políticas e demográficas. Com os últimos ataques, parece que a possibilidade de acordos sobre a solução de dois Estados fica ainda mais distante.

O impacto da guerra para o mundo e para o Brasil

O Brasil assumiu a presidência do Conselho de Segurança da ONU (CSNU) no dia 1º de outubro de 2023. Durante seu mandato, o Brasil terá a oportunidade de liderar o Conselho nas discussões sobre o conflito Israel-Palestina. “É possível que o Brasil tente promover uma solução para o conflito, mediando entre as partes. O Brasil tem relações diplomáticas com ambos os lados do conflito, e pode ser um interlocutor confiável. No entanto, é importante ressaltar que o conflito é complexo e que não há solução fácil. Além de promover uma solução para o conflito, o Brasil também pode tentar reduzir a violência e a instabilidade na região. Mas reforço que mesmo a presidência do CSNU não passa de simbolismo frente aos interesses dos membros permanentes. São esses interesses que decidirão definitivamente os rumos que a comunidade internacional tomará quanto ao caso”, declara Fábio.

Em termos gerais, para o mundo, o conflito Israel-Palestina é uma fonte de instabilidade e violência no Oriente Médio. A escalada da violência nos últimos dias aumenta o risco de um conflito mais amplo, envolvendo outros países da região. Além disso, o conflito também tem um impacto negativo na economia mundial, pois pode levar a aumentos nos preços do petróleo e do gás. Além disso, o conflito também pode gerar um aumento do antissemitismo e da islamofobia pelo mundo.