Farpas 2021 é realizado remotamente com apresentações artísticas e reflexões que resgatam clima caloroso do evento presencial
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”, se uma frase fosse utilizadas para definir esta edição do Festival de Artes e Participação Social (Farpas) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) certamente o pensamento do psiquiatra Carl Jung exemplificaria bem a alma deste evento, que é realizado desde 2017, mas, apenas em 2020 e 2021, em decorrências das restrições impostas pela Covid-19 teve de se reinventar e ser realizado remotamente. Embora promovido no ambiente acadêmico, muito além de conteúdo teórico o evento busca tocar cabeças e corações, por meio da arte, para temáticas sociais, políticas e culturais urgentes e necessárias.
Conhecido pelo clima caloroso que preenche os corredores do câmpus V com música, poesia, rodas de conversa, reflexões diversas, este ano o Farpas foi realizado com uma programação, transmitida pelo canal do Projeto SESA, relacionada à temática “Vacina contra a ignorância”. Apresentado pelos organizadores do evento, professora Suerde Brito e professor Henrique França, o evento contou com a participação ativa da comunidade acadêmica assistindo a programação em tempo real e dialogando no chat resgatando um pouco da atmosfera de afeto e acolhida que emanam durante o evento. Em quatro blocos, que a comissão organizadora do evento chamou de quatro doses da vacina contra a ignorância: conhecer, (auto)cuidar, esperançar e (re)existir, foram apresentados clipes musicais de Myra Maya, Nathalia Bellar, Socorro Lira, DigZin, Banda Caburé, além de charges de Régis Soares e uma esquete de humor com Mancada Obom.
Na oportunidade a mestre em comunicação e entusiasta da filosofia budista e da psicanálise Kalyne Vieira apresentou algumas reflexões sobre a importância do conhecer, da tolerância e do respeito ao próximo. “Nós somos seres de relação, é impossível viver sem o outro. Então, precisamos entender que, quando minha opinião pode afetar negativamente as outras pessoas e a comunidade em que eu vivo, precisamos refletir se é só questão de opinião mesmo. É impossível desconsiderar o outro em nossas escolhas e, apesar das diferenças, a vida humana deve ser preservada e cuidada. E se a gente não sabe como preservar a vida, precisamos eleger alguns mediadores que nos ajudem a fazer isso”, reflete Kalyne.
A psicóloga e mestre em Ciências da Educação Inês Cavalcante Mendes deu prosseguimento às reflexões com uma apresentação centrada no autocuidado. “Hoje, diante de tudo que estamos vivenciando estamos inseguros, em situação de ansiedade e o fato é que nós estamos muito mais suscetíveis à problemas de saúde não apenas físicos, mas, mentais. Neste sentido, precisamos entender a importância de cuidarmos desses dois aspectos, porque quando a gente cuida de si a gente se habilita a, de maneira responsável, cuidar do outro. A amar o outro da maneira que ele precisa. Nesse momento de tantas polarizações, discussões acaloradas, devemos praticar o autocuidado e entender que ele não é um processo unilateral pois, reverbera no outro. Para fazer desses tempos suportáveis, mais leves, precisamos até como forma de esperança, praticar o autocuidado. Pensarmos sobre o que podemos melhorar para chegar no coração do outro”, reflete.
Na sequência a psicóloga Josevânia da Silva relembrou a participação nas edições anteriores do Farpas e apresentou reflexões sobre a necessidade de esperançar em tempos tão adversos. “Falar de esperança, não é abstrair da realidade. Em meio a tantas desesperanças, em meio a tanto sofrimento, é falar de resistência. Que possamos, conforme o que diz Paulo Freire, esperançar no sentido de construir um novo lugar possível, de solidariedade, de justiça, de partilha. Que possamos entender que não estamos sós, seguindo rumo à reinvenção da nossa existência”, avalia.
Ao cantar “Amar demais até parece mal, mas, nenhum outro mal me faz tão bem”, e outras músicas o cantor e compositor Adeildo Vieira apresentou algumas reflexões sobre o tempo presente e sobre o futuro. “Resistir e (re)existir, precisamos entender a importância desses dois verbos. Resistência, que aqui apresentamos na perspectiva da expressão do pensamento e da arte para trazer reflexões profundas. E pensar como reexistir depois da pandemia, com mais 400 mil famílias enlutadas, com tantas perdas. Só a solidariedade pode nos retirar desse abismo. Não é o movimento de ódio que vai vencer”, destacou Adeildo.
Entre uma fala e outra foi realizada a divulgação da campanha de arrecadação voltada aos catadores do Projeto de Extensão do Campus V – UEPB através da campanha SOS Catadores (https://benfeitoria.com/soscatador). A abertura do evento também contou com uma homenagem a algumas vítimas de Covid com a projeção de nomes de pessoas que morreram de Covid-19 enviados por membros da comunidade acadêmica.
O FARPAS é uma ação do projeto “Memória, sociedade e cidadania (MUDDE): reflexões para além dos muros acadêmicos”, cadastrado junto à Pro-Reitoria de Extensão da UEPB como parte do Programa “Seminário de Saberes Arquivísticos: tecnologia, inovação e práticas (SESA)” do Câmpus V da UEPB. Tradicionalmente o evento agrega, desde 2017, um público diversificado em torno de uma vasta programação que, por meio da música, grafite, rodas de diálogo, oficinas, exibições de filmes, entre outras ações, discute temáticas emergentes e urgentes de acordo com o contexto social do período de realização do evento.
Texto: Juliana Marques