Docente da UEPB desenvolve cartilha para ensino de Português para refugiados e é convidada a apresentar experiência em evento da ONU e Sesc-SP
Fome, pobreza, violência, insegurança, são alguns dos problemas que fizeram com que venezuelanos fugissem de seu país para recomeçar suas trajetórias no Brasil. No caminho, além das novas cultura e realidade pessoal e profissional, esses imigrantes encontram a dificuldade de adequação ao português, língua que muitos não dominam. E foi com o objetivo de promover a integração de refugiados venezuelanos na Paraíba por meio do aprendizado da língua portuguesa que a professora do Campus V da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) Mônica de Lourdes Santana criou, em parceria com a professora Andrea Pacífico, discentes dos cursos de graduação e pós-graduação em Relações Internacionais, uma cartilha para o ensino da língua portuguesa.
A iniciativa, que se tornou o projeto de extensão “Ensino do Português como Língua de Acolhimento para Refugiados e Solicitantes de Refúgio Venezuelanos na Paraíba”, da UEPB, ganhou reconhecimento nacional e a professora Mônica foi a única pesquisadora do Nordeste convidada para apresentar sua experiência no “1º Seminário de Língua Portuguesa para Pessoas em Situação de Refúgio”. A docente integra a mesa “Material Pedagógico para o Ensino de Português para Pessoas em Situação de Refúgio”, que será realizada no dia 11 de maio. O evento é promovido pela Agência da ONU para Refugiados e Sesc São Paulo, que sedia as atividades.
A cartilha elaborada pela equipe da UEPB conta com 11 capítulos que reúnem conteúdos de gramática, textos, exercícios focados no dia a dia de um cidadão e direcionados às necessidades dos refugiados, tais como preenchimento do formulário para RG, CPF, passaporte, cartão do SUS, como identificar os pontos no mapa da cidade de João Pessoa para ajudar na locomoção na cidade, panfletos de farmácia, supermercados, entre outros.
“Nosso foco é promover a interação deles na cidade colaborando para a autonomia através do aprendizado da língua portuguesa. As aulas iniciaram em novembro de 2018. Acontecem duas vezes por semana à tarde. Já atendemos cerca de 30 pessoas, adultos e adolescentes. Muitos já conseguiram emprego e nos agradecem quando nos encontram na rua. Além disso, temos um contato harmonioso com as psicólogas e assistentes sociais das Aldeias Infantis SOS Brasil. Fomos convidadas para na próxima chegada de venezuelanos recepcioná-los e falarmos mais sobre nosso trabalho. E estamos pensando em dar prosseguimento dando aula nas residências”, explica a professora Mônica.
A professora Mônica Santana é doutora em Psicolinguística (UFPB) e mestre em Língua Inglesa e Literatura Inglesa e Norte Americana pela USP. A docente atua no curso de Relações Internacionais da UEPB, participa do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Deslocados Ambientais (NEPDA) e é integrante da Cátedra Sérgio Vieira de Melo (CSVM), que foi criada em 2014 sob a coordenação das professoras Andrea Pacheco Pacífico e Thalita Melo e tem como finalidade oferecer educação em questões de refugiados e outros migrantes articulado ao ensino, pesquisa e extensão.
O grupo de docentes e pesquisadores vinculados ao NEPDA e à CSVM da UEPB atua na oferta de disciplinas na graduação e no mestrado em Relações Internacionais, ligados ao tema de refugiados e migrantes forçados; na produção científica e técnica, e está incrementando de forma significativa trabalhos de pesquisas, publicações e capítulos de livros, artigos, entre outros gêneros científicos de autoria de docentes e discentes, além de atividades de extensão, como atendimento e auxílio nos processos de integração local no Brasil e na Paraíba, e assessoria de proteção jurídica, humanitária e institucional.
De forma pioneira, sob a coordenação da professora Mônica Santana, a CSVM/UEPB realizou a capacitação para um grupo de discentes para oferecer curso de português como língua de acolhimento aos cerca de cem venezuelanos que chegaram a João Pessoa. O Programa PLAC (Português como língua de acolhimento) também é realizado por algumas CSVM no Brasil, a exemplo de UnB, USP e UERJ.
Texto: Juliana Marques