Coordenador da área de ciência política e relações internacionais do CNPq participa de reunião e palestra promovidas pelo PPGRI
Com o objetivo de apontar caminhos que possam contribuir com o aprimoramento do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e dialogar sobre as visões de futuro do sul global e outras pautas relevantes na área, como a guerra na Ucrânia, o professor da Universidade Estadual Paulista, Samuel Soares, esteve presente no Câmpus V na quinta e sexta-feira (6).
De acordo com a coordenadora do PPGRI, professora Cristina Pacheco, a vinda do professor Samuel já era idealizada há meses para possibilitar a reflexão da coordenação e equipe de docentes do referido Programa sobre os rumos estabelecidos e possíveis melhorias nos processos para que as avaliações possam refletir a realidade observada e o Mestrado possa melhorar seus índices. “Nossa preocupação é saber o quanto estávamos no caminho correto de preenchimento da plataforma Sucupira porque, mesmo sendo uma universidade periférica temos conseguido publicar bem, conquistar espaços, ganhamos um prêmio de dissertações competindo com outras universidades. Então queremos refletir sobre o que estamos fazendo e verificar se estamos fazendo as costuras corretas para melhorar nossa nota de avaliação”, avalia.
Para o professor Samuel, o PPGRI apresenta-se como um curso organizado e com clareza do que está sendo feito. “Fiquei bem impressionado com a maturidade do Programa e apenas apontei alguns caminhos para que seja possível expor tudo que o Curso dispõe para que a avaliação possa corresponder a essa situação concreta”, declara.
Durante a palestra “Usurpação do futuro como práticas securitárias”, realizada na sexta-feira (6) no auditório Pioneiros, o professor Samuel Soares apresentou uma reflexão sobre a visão de futuro presente no sul global que seria orientada a partir de alternativas apresentadas por metrópoles. “Se considerarmos que toda ação humana é orientada por nossa visão de futuro, o nosso imaginário fica muito colonizado a partir dessas visões de mundo que são apresentadas por esses países. Ficamos presos num círculo que não nos permite imaginar outras alternativas de futuro, a esse tipo de processo chama-se desfuturização. O fato de que nos dizem que há apenas uma alternativa de futuro e não outras, é também uma prática violenta, securitária, nos impede, ou cria um conjunto de obstáculos, para considerarmos possibilidades distintas de futuro”, explica.
Guerra na Ucrânia
Durante a palestra o professor Samuel Soares foi questionado pelos presentes a respeito da Guerra na Ucrânia. Na oportunidade, o pesquisador enfatizou que a duração do conflito tem surpreendido especialistas que acompanham esse confronto já que, conforme enfatiza o docente, a Rússia apresente poder bélico superior à Ucrânia, porém, a intervenção de outras nações contribui para que o conflito se prolongue por tanto tempo.
“Os interesses são maiores nesta guerra que não é ‘da’ Ucrânia, e sim ‘na’ Ucrânia. Há um quadro de conflito entre Estados Unidos e China. Também temos a intervenção da OTAN. E uma das repercussões desse conflito está relacionada ao emprego cada vez maior de tecnologias de inteligência artificial, como drones não tripulados armados, chamados drones kamizazes, que provavelmente, em breve, estarão disponíveis para uso em outros países, como o Brasil. Além disso, há uma perspectiva de aumento do investimento em defesa, que chega a 2% do Produto Interno Bruto nos países da OTAN. Nos Estados Unidos, estamos falando em algo em torno de 200 bilhões de dólares anualmente. No Brasil já gastamos em torno de 1.4% do PIB com defesa e há uma pressão para chegarmos a 2%. Então nos cabe questionar: por que teremos que empregar 2%? Que tipo de ameaça exige isso? Se a resposta for que precisa, de onde vai tirar? É muito dinheiro. O atual PAC concedeu ao Ministério da Defesa uma fatia maior que educação e saúde”, avalia o professor Samuel.
Pós-doutor pela Georgetown University, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, Samuel Soares foi presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (Abed), e atualmente é bolsista produtividade 2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pesquisador do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes) e coordenador do Grupo de Elaboração de Cenários Prospectivos.
Texto e fotos: Juliana Marques