Cineclube do Campus V promove exibição de documentário “O Cárcere e a rua” seguida de debate
O Cineclube do Campus V da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), promoveu, na noite desta terça-feira (20) no auditório Pioneiros, a exibição do documentário “O Cárcere a a Rua”. Após a exibição foi realizado um debate com a mediação dos professores da UEPB Mônica Santana e Henrique França, e a professora da Rede Estadual de Ensino e Coletivo Adélia de França, Cinthia Araújo. De acordo com o professor Filipe Reis o filme escolhido prendeu a atenção e emocionou os presentes e o debate que se seguiu foi considerado esclarecedor.
Dirigido por Liliana Sulzbach o documentário “O Cárcere a a Rua” (2004) mostra o choque da soltura de três entrevistadas da penitenciaria feminina Madre Pelletier, localizada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Com sensibilidade a diretora retrata a experiência de três realidades e subjetividades diferentes: a da Cláudia, a da Daniela e a da Betânia, conseguindo aprofundar com leveza, não sem densidade, a psicologia do feminino num cotidiano dominado pela solidão e pelas perdas.
O primeiro retrato é o da veterana Cláudia, negra de 54 anos de idade, acompanhada a meio metro pela câmera numa área comercial. Desacostumada com o entorno, porque passou boa parte de sua existência cumprindo pena por latrocínio –assalto seguido de morte-, compra uma tintura para o cabelo e pergunta onde fica o ponto final de uma linha de ônibus, ninguém lhe fornece uma informação precisa. Diante de um rapaz que lhe indica o ponto, surpreso com a equipe de filmagem, ela explica : “ é que estou saindo da prisão”.
Em oposição ao caso de Cláudia, aparece o da menina Daniela, réu primária, presa por infanticídio -tentativa de matar o próprio filho-,o que Daniela, grávida, nega. Ela fica transtornada em poucas semanas quando percebe que ficará por muito tempo reclusa. Não fosse o acolhimento e a proteção de Cláudia, certamente se machucaria nas mãos das internas que não toleram esse tipo de crime.
Entre esse dois lados está Betânea, presa por assalto, que, passados três anos em regime fechado, também tem direito ao semiaberto depois de cumprir um sexto da pena. Mais instável e jovem que Cláudia, ela não se acostuma com o alojamento reservado fora do presídio. Sai e decide certa noite, não retornar. Foragida e apesar do medo da polícia, pretende não voltar.
Unindo as realidades destas mulheres, a diretora revela uma característica peculiar dos presídios femininos: o abandono. Ao ir para a cadeia a mulher é separada dos filhos, abandonada pelo homem. Até familiares próximos se afastam. A mãe visita o filho durante anos; a filha presa não merece a mesma consideração. A exceção, porém, é captada no documentário: um marido aparece todas as noites diante da porta da penitenciária para gritar em altos brados seu amor por sua mulher.
Foto: Filipe Reis
Informações sobre o documentário retiradas da resenha disponível no blog: “As múltiplas faces do ser”