Campus de João Pessoa realiza seminário de gestão de recursos hídricos e resíduos sólidos
O impacto do lixo nas bacias hidrográficas, a política nacional de resíduos, o desperdício de água, lixo e vulnerabilidade socioambiental, essas são algumas das preocupações de gestores, pesquisadores e da sociedade no século XXI, abordadas durante o “Seminário Integrado: gestão de recursos hídricos e gestão de resíduos sólidos”, realizado nesta segunda-feira (4), pela manhã e à tarde, no Campus V da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
O evento, que é promovido pelo projeto de extensão “Mobilização, inclusão e formação de catadores/as de materiais recicláveis da cidade de João Pessoa: uma experiência necessária”, contou com a participação de estudantes, docentes, pesquisadores, gestores e catadores de resíduos sólidos de João Pessoa.
De acordo com a responsável pela organização do seminário, professora Fátima Araújo, essa iniciativa é voltada à formação de catadores da cooperativa Acordo Verde, além de configurar-se como uma oportunidade de aproximação entre os órgãos públicos de gestão ambiental, academia e comunidade, com o objetivo discutir uma temática de relevância mundial.
“A partir da Lei 12.305, que institui a política nacional de resíduos sólidos, percebemos uma mudança de postura e de responsabilidades relacionadas à gestão dos resíduos que passa a ser compartilhadas entre poderes públicos e geradores de resíduos.
Com relação aos recursos hídricos a crise que presenciamos e o desperdício também tem servido de alerta. Sendo assim, eventos com essa temática, que buscam despertar um senso crítico quanto ao papel de cada cidadão enquanto agente multiplicadores para a preservação dos recursos hídricos e gestão eficaz dos resíduos sólidos, cumprem o papel social e ético da universidade”, avalia professora Fátima.
Durante o evento, o representante da secretaria de Recursos Hídricos, do Meio Ambiente, da Ciência e Tecnologia da Paraíba (Serhmact), Beranger Arnaldo de Araújo, apresentou um levantamento sobre o impacto do lixo nas bacia hidrográficas da Paraíba. Já o pesquisador do curso de Ciências Biológicas do Centro de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas da UEPB, professor Ênio Wocyli Dantas, discutiu o ciclo de desperdício da água e as possíveis medidas de economia, a partir de soluções caseiras simples como a redução do tempo do banho, o uso do balde em substituição à mangueira, a troca da descargas por modelos mais modernos que utilizam uma quantidade de água menor, entre outras.
Uma das iniciativas de economia apresentadas no Seminário é o Ecoxixi, uma espécie de recipiente que utiliza o ralo do banheiro para o depósito de urina, evitando a utilização da descarga e, assim, economizando água. O mecanismo, desenvolvido em Campina Grande, e já a venda em diversos estabelecimentos comerciais da cidade, esteve sendo comercializado durante o seminário. A manhã de atividades foi encerrada com a palestra “A questão da água: risco e vulnerabilidade socioambiental”, ministrada pelo professor Vancarder Brito de Sousa.
O turno da tarde contou com a palestra “Gestão de recursos hídricos e poluição hídrica”, tendo como ministrante da professora Lovânia Maria Secco Wenlony. Em seguida foi realizada a mesa-redonda com a participação do professor Ênio Wocyli Dantas; a graduanda em Ciências Biológicas Vivianne Evelyn Alves; o professor Vancarder Brito de Sousa e a representante dos catadores de resíduos sólidos Egrinalda dos Santos.
Crise ambiental no Brasil: a má gestão de recursos hídricos e resíduos sólidos
Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em setembro de 2015 constatou que planos de recursos hídricos em todos os níveis no Brasil são mal coordenados e raramente colocados em prática. O documento intitulado “Governança dos Recursos Hídricos no Brasil”, é resultado de um diálogo com mais de cem instituições, entre ministérios, órgãos públicos de diferentes níveis de governo, setor privado e sociedade civil resultando num amplo diagnóstico e sugestões de atuação sobre a gestão de recursos hídricos, com foco no Pacto Nacional pela Gestão das Águas e na alocação de água. De acordo com o relatório a ideia de que o país é “abençoado” por abundância de água doce contribuiu para a má gestão de recursos hídricos nos últimos anos.
Assim, situações de desperdício de água pelos órgãos públicos e sociedade, escassez e poluição de mananciais, fazem com que a crise hídrica torne-se uma preocupação nacional e projetos e atividades com o objetivo de promover a recuperação e a preservação da qualidade e quantidade dos recursos das bacias hidrográficas brasileiras e atuem na recuperação e preservação de nascentes, mananciais e cursos d’água em áreas urbanas ganhem espaço nas discussões governamentais e acadêmicas.
Da mesma forma ocorre com a questão dos resíduos sólidos, que, com o aumento da população brasileira são produzidos numa escala cada vez maior o que requer uma preocupação quanto ao descarte e reaproveitamento. Segundo dados do “Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos”, organizado pelo Ministério das Cidades com informações sobre o panorama atual da situação da gestão de resíduos sólidos em todo o Brasil em 2014, a coleta seletiva ainda não é realidade na maioria dos municípios brasileiros e cada pessoa produz diariamente em média 1kg de lixo.