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Centros da Universidade Estadual da Paraíba

Docente da UEPB indica solução para conter avanço da contaminação por cianobactérias das águas do Açude de Boqueirão

24 de maio de 2016

Diante do risco que Campina Grande e demais cidades abastecidas pelo Açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, estão enfrentando com a possível presença de cianobactérias no manancial, a professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Weruska Brasileiro Ferreira, indica uma alternativa para conter o avanço da contaminação da água do manancial e, assim, evitar futuros danos a saúde dos paraibanos.

Trata-se de um projeto de produção de microalgas para fins de biocombustíveis. Intitulado “Estudo da potencialidade da geração de biocombustíveis a partir das microalgas cultivadas em esgoto doméstico”, o projeto desenvolvido há dois anos visa ampliar o alcance da rede de saneamento e até universalizar o serviço. Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto prevê a transformação dos tanques de tratamento de esgoto em locais de cultivo de microalgas.

A ideia é tratar o esgoto doméstico através do cultivo das microalgas, promovendo a biorremediação desses dejetos, que são os contaminantes dos mananciais. Esse processo favoreceria a produção de biocombustível. “A cultura dessas microalgas aparece como alternativa para transformar os efluentes poluidores em diversos produtos sustentáveis”, ressalta Weruska.

Ela explica que o projeto não prevê a despoluição das águas de Boqueirão, o que exige técnicas avançadas, mas pode evitar o agravamento do problema a partir do trabalho de prevenção feito nos esgotos domiciliares. O tratamento adequado desses esgotos, segundo a docente, evitaria o avanço da poluição da água que corre para Boqueirão, deixando o açude em condições de receber as águas que futuramente virão com a transposição do Rio São Francisco.

A pesquisadora da UEPB explica que as microalgas são ricas em proteínas, lipídios e carboidratos que, cultivadas de forma específica, possibilitam a extração dessas substâncias que podem ser utilizadas para minimizar o impacto de nutrientes como nitrogênio e fósforo, que estão presentes no esgotamento de difícil remoção na estação de tratamento de esgoto.

As microalgas são vegetais unicelulares fotossintetizantes que podem ajudar a otimizar o saneamento. “Nos locais onde não há tratamento, o cultivo das microalgas ajuda a minimizar a carga poluidora. Onde não há tratamento existe o risco de grande impacto ambiental nos lençóis freáticos e fontes hídricas”, observa Weruska Brasileiro, apontando ainda que o cultivo desses micro-organismos tem a possibilidade de proporcionar outras alternativas que poderiam custear o investimento no saneamento básico no Estado. Ou seja, o projeto prevê a produção de biocombustíveis a partir do tratamento de esgoto.

A pesquisadora explica que esse cultivo poderia funcionar como peça fundamental de um processo de energia limpa e redutor dos males do efeito estufa. “Com a universalização do saneamento, é possível, através dos carboidratos e lípidos presentes nestes organismos, obter diversos biocombustíveis como o biodiesel e etanol, o que favoreceria no próprio financiamento de investimento feito no saneamento básico”, frisa.

Weruska lembra que para atingir a meta de universalização do saneamento, prevista na política nacional, o Brasil precisaria investir R$ 15 bilhões por ano, mas no ano passado só conseguiu gastar a metade desse valor. Com as microalgas, o país poderia tratar o esgoto doméstico, tendo um produto de valor agregado, que seriam as energias renováveis. “As energias poderiam financiar esse tipo de financiamento”, observa.

Boqueirão

A professora Weruska esclarece que a ocorrência da floração de cianobactérias no reservatório Epitácio Pessoa deve-se não apenas ao baixo nível de água que o manancial está registrando, mas principalmente devido ao excesso de nutrientes como fósforo e nitrogênio. Esses constituintes químicos, segundo a especialista, estão presentes no esgoto doméstico e em fertilizantes. No entendimento da professora da UEPB, a falta de tratamento do esgoto e as práticas agrícolas irregulares contribuem para o desenvolvimento de cianobactérias nos corpos hídricos.

“Faz-se necessário o tratamento de esgoto no nível de remover os nutrientes como nitrogênio e fósforo, para preservar as águas naturais. Caso contrário, além da escassez de água, teremos que enfrentar a escassez de água de qualidade adequada para consumo humano”, destaca. Na avaliação de Weruska, a potabilidade pode ficar ainda mais comprometida com a chegada do volume morto. De acordo com a professora, o tratamento da água de Boqueirão feito na Estação de Gravatá não é suficiente para retirar as impurezas e garantir que ela seja própria para o consumo humano, o que pode trazer riscos à saúde.

A engenheira alerta para o grave problema de saneamento no Brasil, principalmente no que diz respeito ao tratamento de esgoto. Segundo ela, hoje aproximadamente 57% do esgoto doméstico são coletados, mas apenas 39% são tratados. “Temos um déficit de tratamento de esgoto muito grande, o que acaba comprometendo os corpos hídricos, visto que muitos dos dejetos domésticos são lançados diretamente nos mananciais, o que acaba contaminando-os. É o que estamos vivenciando no Açude de Boqueirão: a proliferação de cianobactérias, que se desensolvem com nitrogênio e fósforo, os quais estão presentes no esgoto doméstico”, frisa Weruska.

Ela salienta que analisando o laudo sobre cianobactérias nas águas do Açude Epitácio Pessoa, divulgado pelo professor Janiro Costa, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), é fato que em razão do número de cianobactérias presentes nas águas do reservatório ultrapassar os 20.000 cel/ml, necessita de monitoramento semanal de cianotoxinas, conforme preconiza a Portaria de Potabilidade D’Água, o que a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) está seguindo criteriosamente.

No entanto, segundo a professora, “o que precisa ser alertado é com relação a capacidade de tratamento da estação de tratamento de água de Gravatá. Analisando o laudo, observa-se que a concentração de microcistina na água bruta (sem tratamento) é de 0,24mg/l. Após o tratamento este valor passa para 0,36mg/l. Com relação a concentração de um outro tipo de cianotoxina (a cilidrospermopsina), na água antes do tratamento tem-se 0,0mg/l e após o tratamento o teor passa para 0,5mg/l, o que representa um aumento de cianotoxina após o tratamento convencional existente na estação de tratamento de Gravatá. Isto, de fato, comprova a limitação de tratamento da referida estação para este tipo de problema”.

A pesquisadora destaca que este aumento de cianotoxinas na água tratada acontece, muito provavelmente, em razão da lise celular que ocorre durante o tratamento. “Felizmente os valores de cianotoxinas estão atendendo aos padrões de potabilidades. Mas chamo atenção que em razão da escassez das chuvas e o excesso de nutrientes presentes no reservatório de Boqueirão, a floração de cianobactérias tende a aumentar. Assim, precisamos antecipar as ações com relação ao tratamento, implementando técnicas de tratamento de água associando ao próprio tratamento convencional já existente, para que tenhamos condições de aumentar a capacidade de tratamento da estação em questão e evitarmos uma possível parada no abastecimento de água”, conclui Weruska.

Texto: Severino Lopes

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