Etapa do 2° Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos é realizada em Lagoa Seca

14 de junho de 2018

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Na última quarta-feira (13), o Campus II da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), localizado em Lagoa Seca, sediou o 2° Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos. Promovido pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult), em parceria com o referido campus, o evento aconteceu nos períodos da manhã e tarde, recebeu um grande público e dispôs de uma estrutura montada especialmente para receber a iniciativa.

O Encontro começou com apresentações do sanfoneiro mirim Raí Bezerra, contando ainda com exibições dos emboladores de coco Canário e Caboclo, que divertiram a plateia com suas improvisações. João e Marcelo Calixto e os professores do Centro Artístico Cultural (CAC) da UEPB, Erivan Ferreira e João Batista, também integraram a programação.

Declamações de estudantes do Campus II e de Lino Sapo, mestre de cerimônias oficial da atividade, bem como intervenções artísticas de alunos do Centro de Formação Elizabeth e João Pedro Teixeira (MST/PB), igualmente, animaram o evento. Um dos pontos altos foi a participação do casal de septuagenários Antônio da Guia e Da Guia de Antônio, que, inclusive, esteve na primeira edição do Encontro, no ano passado, encantando a todos com seu forró genuíno.

O homenageado da iniciativa em Lagoa Seca foi o tocador de fole e sanfona Manuel Tambor. O artista recebeu um troféu confeccionado pelo estudante Robério Marques. A Orquestra Rural Vó Maria, provinda de Areia, veio coroar o encerramento do Encontro, no final da tarde, com um repertório baseado essencialmente no cancioneiro nordestino.

O pró-reitor de Cultura, José Cristóvão de Andrade, deu as boas vindas à plateia e aos inscritos do Campus II, ressaltando a acolhida e a organização do evento. “É uma satisfação para nós efetivar mais uma etapa do Encontro, em cada cidade sempre com esse objetivo de congraçamento, de nos reunirmos ao redor da criatividade do nosso povo”, explanou.

O diretor do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA) da UEPB, José Félix de Brito Neto, destacou a importância do Encontro para toda a Paraíba e o Nordeste. “Ao valorizar esses instrumentistas, a UEPB dá sua colaboração e seu incentivo para que a música de raiz prossiga e seja conhecida e honrada pelas próximas gerações. Por tudo que devemos a esses artistas e à perseverança deles, no sentido da continuidade da cultura popular, o mínimo que podemos fazer é enaltecê-los”, explicou.

Uma das integrantes do Encontro foi a aposentada Ana Júlia da Conceição, 77. Viúva do sanfoneiro Epifânio de Souza, falecido há mais de 15 anos, ela foi presença marcante em todo o evento, dançando e tocando triângulo. “Fiquei muito feliz ao saber do Encontro na Universidade. Meu marido e eu nos apresentamos várias vezes no Parque do Povo, durante o São João. Gostava muito disso e queria continuar, mas poucos convites aparecem”, disse.

O assessor da Procult Agnaldo Barbosa, o professor do CAC Erivelton da Nóbrega, o produtor cultural da Procult, Alberto Alves, as professoras Shirleyde Santos e Élida Barbosa Correia, e os técnico-administrativos Lisiane Santos de Almeida e Igor de Carvalho foram alguns dos que compuseram o público do evento.

Mais sobre Manuel Tambor

Manuel Carneiro, conhecido como Manuel Tambor, nasceu no dia 17 de junho de 1928, em Santa Luzia (PB). Proveniente de uma família de origem humilde, deu seus primeiros passos na música aos 12 anos, aprendendo com o pai, que era agricultor e tocava fole de oito baixos nas poucas horas vagas que restavam da lida no campo. O pai de Manuel, porém, não queria que ele fosse tocador, mas agricultor.

Em 1942, quando contava 14 anos, a família veio morar na zona rural da cidade de Esperança (PB), numa terra arrendada pelo pai dele. Com a dificuldade financeira, Manuel começou a tocar na feira do mercado público e em sítios para ajudar nas despesas familiares. Sete anos depois comprou uma sanfona de 48 baixos e, após treinar por seis meses, passou a levá-la para os forrós, onde tocava uma parte da festa na sanfona e a outra no fole de oito baixos. A plateia se encantava pelo fato do artista saber dos dois instrumentos, dado que era comum que tocassem ou a sanfona ou o fole. Assim, foi contratado para tocar no São João e no São Pedro na cidade de Alagoa Nova, pois a notícia que tinha um tocador que fazia os dois, e ainda cantava, espalhou-se e não faltavam convites de trabalho.

Em 1951, casou-se com Dona Margarida e adquiriu uma casa na cidade; como se dizia na época: “comprou uma casa na rua”. Seguiu a carreira e constituiu família com a esposa. Dois anos depois, em 1953, optou por tentar a sorte como músico, no Recife (PE), acompanhado do irmão, Diassis, que tocava pandeiro. Desconhecidos, os irmãos não ganharam um bom acolhimento. Na volta, decidiu parar num bar para tomar uma cerveja, e, enquanto isso, perguntou ao dono se podia tocar uma música. Quando terminou a execução dela, as pessoas que estavam no local gostaram e vieram pedir outras. Um senhor, que assistiu toda a apresentação, perguntou se Manuel Tambor aceitaria se apresentar na Rádio Tamandaré e escreveu um bilhete dizendo que entregasse ao diretor da Rádio. Mais: que não saísse de lá sem uma resposta.

O diretor gostou do trabalho de Manuel e surgiu um convite para que participasse de um show de auditório. Dependendo da apresentação, a promessa era ser contratado como Artista de Rádio. Manuel ficou espantado quando viu o tamanho do auditório, mais de duas mil pessoas na plateia e os sanfoneiros que se apresentavam – um mais hábil que o outro. Contudo, aplaudido de pé, cantando e tocando o “Xote das Meninas”, de Luiz Gonzaga, ele se destacou como o melhor e pediram que desfiasse mais cinco músicas. Recebeu um bom pagamento e retornou à Esperança para arrumar as coisas e se mudar para o Recife, onde já estava acertado o emprego de Artista de Rádio na Rádio Tamandaré, mas Dona Margarida não gostou da ideia. Não queria se mudar, pois tinham dois filhos, Valdeci e Espedito, ainda bebês. E, para não se indispor com a amada, Manuel desistiu da oportunidade na Rádio e ficou em Esperança.

Mais tarde, faria diversos conjuntos com os filhos, Espedito e Luiz Carlos (Lulu). O primeiro foi o “Solracsom”. Depois viria a “Banda Estação da Luz”, que também dispunha de uma cantora e terminou por incorporar instrumentistas de sopro (trompete, saxofone e trombone) e se transformar em Orquestra, junto também de seu outro filho, Pelé. Poucos anos depois Manuel parou de tocar, mas seus filhos continuaram com a Orquestra até 2012.

Após o falecimento da esposa, em 2005, Manuel Tambor decidiu morar com as filhas em Campina Grande, mas costuma voltar a sua casa em Esperança, onde reside Valdeci, a filha mais velha. Hoje aposentado, ele tem 12 filhos, 19 netos e três bisnetos e muitos amigos que compartilham de sua alegria de viver e admiram sua aguerrida trajetória artística.

Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Paizinha Lemos

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