Estudantes de Jornalismo participam de pesquisa sobre lugares com escassez de veículos de comunicação
Estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) participaram do último levantamento do Atlas da Notícia, uma iniciativa para mapear veículos produtores de conteúdo jornalístico no território brasileiro. A tarefa dos alunos foi mapear áreas do estado paraibano onde o acesso as notícias e informações são escassas ou inexistentes. A pesquisa descobriu vários lugares com escassez de veículos, mas também o avanço de meios digitais que ajudam a reduzir o deserto de informação.
Jaciela Nayara Cordeiro, Eduardo Gomes e Vitória Soares foram os alunos que participaram do levantamento realizado entre o segundo semestre de 2020 e janeiro de 2021, e lançado em fevereiro deste ano no site do Atlas da Notícia. Nayara Cordeiro, participou do projeto pelo segundo ano consecutivo.
O professor Fernando Firmino, do Departamento de Jornalismo da UEPB, apresentou o projeto ao curso. Em um evento da área ainda em 2016, o docente conheceu Mariama Correia, coordenadora da região Nordeste do Atlas da Notícia e a partir daí surgiu um acordo, tendo a UEPB como apoiadora institucional do projeto. Foi aí que Nayara conheceu proposta, que a surpreendeu. “Achei o projeto incrível. O nome me chamou a atenção: o mapeamento das áreas desérticas de jornalismo Paraíba. A partir daí, entrei em contato com a Coordenação e foi quando tudo começou”, relatou a aluna sobre a primeira vez que participou, no segundo semestre de 2019.
Sua principal função, bem como a de outros alunos participantes, era fazer o mapeamento das cidades do interior paraibano onde nada ou pouco se sabia sobre a área de informação. Com isso, verificavam os municípios considerados pelo projeto como “desertos de notícia”, e outros que se pensava serem escassos, mas onde havia meios de comunicação. “Em 2020 foi bem mais complicado, por causa da pandemia. O projeto acontece no fim do segundo semestre, quando geralmente os estudantes estão na correria do fim do ano. Por isso, até concluímos um pouco depois, em janeiro deste ano”, explicou Nayara.
Esta temática não era a especialidade entre os estudos da aluna, mas era de sua área de interesse, despertada especialmente nas aulas de outro professor do departamento, Luiz Custódio da Silva, que, entre outros, pesquisa o jornalismo local, regional e áreas interioranas. “O professor Custódio me deu um grande incentivo para participar deste projeto, até para conhecer mais sobre o jornalismo paraibano. Eu sou pernambucana e vim à Paraíba para estudar Jornalismo. Dessa maneira, pude conhecer o jornalismo produzido em diversas cidades do estado e não só em Campina Grande ou João Pessoa, como é mais conhecido”, relatou Nayara.
Para Nayara Cordeiro, participar do projeto por estes dois anos foi um grande aprendizado, com importantes descobertas e também surpresas, desde a dificuldade de mapear boa parte das cidades do interior, falta de informação sobre alguns locais, pequenas cidades onde não se imaginava haver qualquer meio jornalístico, maior circulação de notícias devido à internet e até a ter um pároco como fonte de informação. “Mesmo que as áreas desertas ainda sejam muito grande, a gente detecta o avanço da comunicação, da informação e do jornalismo com muito mais agilidade, graças à internet”, conta.
A maioria destes veículos são meios digitais, como rádio web, blogs, sites e perfis em redes sociais. Ao mesmo tempo em que a internet avança, há uma grande dificuldade de contactar outras cidades, pois de maneira nenhuma se assemelham a municípios urbanos, onde a informação é facilitada. “Foi muito importante participar desta pesquisa para entender como funciona o jornalismo local e a dificuldade que ainda existe na democratização da comunicação e do acesso à informação que as pessoas ainda não têm totalmente”, afirma Nayara.
Atlas da Notícia
De acordo com o levantamento de 2021 do projeto, os meios digitais encontrados tendem a reduzir os desertos de notícia no Nordeste. A coordenadora da região, Mariama Correia, escreveu que enquanto a convergência para plataformas digitais não tem sido suficiente para garantir a sustentabilidade financeira de grandes empresas de mídia, a internet segue abrindo novas possibilidades de financiamento e de modelos de negócios nativos digitais, ganhando relevância na cobertura local, dentro e fora dos grandes centros urbanos. Dos 2.402 veículos jornalísticos mapeados no Nordeste nesta edição do Atlas da Notícia, 1.043 são on-line, ou seja, 43% do total. Na edição anterior da pesquisa, o on-line representava 22%.
O mapeamento do Atlas da Notícia é construído com a participação de voluntários em todos os Estados do país. Em sua maioria são docentes, pesquisadores e estudantes de Jornalismo. Apesar das dificuldades impostas pela pandemia, que impactou inclusive os calendários de instituições de ensino, mais de 30 voluntários dedicaram horas de trabalho, ao longo de meses, para as atividades do Atlas da Notícia no Nordeste. Muitos deles são professores e alunos de universidades públicas nordestinas, incluindo a UEPB.
É possível conferir no site do projeto o levantamento completo da região Nordeste, bem como dados sobre desertos de notícia de todo o país.
Texto: Juliana Rosas
Fotos: Reprodução/Arquivo Pessoal