Uso medicinal da cannabis é discutido em seminário promovido pelo Departamento de Psicologia da UEPB
A permissão para o uso da planta cannabis com fins medicinais ainda é um tema polêmico, que divide opiniões e até mesmo a comunidade científica. A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), por meio do Departamento de Psicologia, trouxe o debate para dentro da Instituição, procurando sobretudo mostrar o potencial terapêutico da erva de mais de 8 mil anos, oriunda da Ásia. O seminário “O uso medicinal da Cannabis”, coordenado pelo professor Nelson Júnior, foi realizado na manhã desta quinta-feira (21) e reuniu estudantes e professores dos cursos de Farmácia, Fisioterapia e Psicologia.
O evento, realizado no Auditório do Departamento de Psicologia, no Câmpus de Bodocongó, em Campina Grande, e teve como palestrantes o professor de Medicina da Universidade Federal de Paraíba (UFPB), Gustavo Dias, e a presidente da Liga Canábica da Paraíba, Sheila Geris. Pesquisador do tema, o professor e médico psiquiatra Gustavo Dias fez um relato histórico dos usos milenares da cannabis até a chegada do proibicionismo e a possibilidade de liberação para uso medicinal em decorrência das descobertas científicas.
Gustavo ressaltou que, atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou apenas o uso do canabidiol. No entanto, ele observou que apesar da Anvisa só autorizar o uso do canabidiol, algumas associações brasileiras têm conseguido permissão da Justiça para cultivar a maconha e produzir medicamentos da planta inteira. “Tem todas essas contradições. A planta continua proibida, a Anvisa autoriza o canabidiol, mas, na prática, tem muita gente no Brasil usando o extrato da planta inteira”, afirmou.
A presidente da Liga Canábica da Paraíba, Sheila Geris, mostrou o que atualmente é permitido e proibido no Brasil em se tratando da cannabis. De forma geral, ela enfatizou que a legislação autoriza apenas usar óleos extraídos da planta e importados de outros países. O que acontece, segundo Sheila, é que alguns pacientes têm conseguido se documentar através de laudos médicos e obtido permissão judicial para cultivar a planta e, assim, produzir o próprio remédio de forma caseira. Atualmente, há 50 pacientes no país nessa situação.
De acordo com Sheila, a extração do óleo é simples e pode ser feita na cozinha de uma casa de forma segura. No entanto, por conta da proibição, tem surgido núcleos de pacientes que criam laboratórios clandestinos por não ter autorização judicial. O potencial terapêutico da cannabis é comprovado cientificamente e cada vez mais as pesquisas mostram efeitos promissores para a melhoria de sintomas em diferentes doenças.
Estudos relevam a eficácia do uso medicinal da planta em cerca de 300 patologias, conforme frisou Sheila Geris. Entre elas, estão a esclerose múltipla, distúrbios do sono, quadros de dor crônica, alguns tipos de epilepsia, parkinson, entre outras. Organizador do seminário, o professor Nelson Júnior explicou que o evento teve como objetivo fomentar o debate sobre o uso terapêutico da planta, que vem sendo usada em vários países do mundo inteiro para aliviar diversos problemas de saúde.
“Ainda existe um tabu muito grande no Brasil, que não tem uma legalização do uso terapêutico da cannabis. Queremos aprofundar o tema na comunidade acadêmica e mostrar a importância de discutir esse assunto para que, em médio prazo, a cannabis possa vir a ser legalizada para fins terapêuticos”, destacou. O seminário também teve apoio da professora Morgana Carvalho, do Câmpus de Araruna, que está começando a desenvolver um trabalho de extensão intitulado “O PEX Cannabis”, que visa fazer uma divulgação do uso medicinal no serviço público e no âmbito das universidades.
Texto e fotos: Severino Lopes
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