Pesquisa de professor da UEPB sobre uso de mamíferos selvagens repercute em revista especializada
O professor do Departamento de Biologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Rômulo Alves, publicou recentemente o artigo “Uma análise global dos fatores ecológicos e evolutivos do uso de mamíferos selvagens na medicina tradicional”, na revista científica Mammal Review, periódico científico oficial da The Mammal Society, que visa a pesquisa e preservação de animais mamíferos.
Publicado originalmente em inglês, sob o título “A global analysis of ecological and evolutionary drivers of the use of wild mammals in traditional medicine”, o artigo mostra que produtos derivados de mamíferos silvestres são amplamente utilizados em remédios tradicionais, o que pode ameaçar ainda mais espécies já em perigo. Resultados mostram que 521 espécies de mamíferos são usadas como fonte de produtos para tratar 371 doenças. Viu-se na base de dados que 155 espécies de mamíferos são consideradas ameaçadas, que quer dizer vulnerável, em perigo ou criticamente ameaçada; e 46 quase ameaçadas. Os usos de animais por culturas tradicionais foram mais comuns na China, Índia e América Latina.
O estudo revelou que uma impressionante riqueza de espécies de mamíferos – 9% das 6.399 espécies conhecidas – é usada em sistemas médicos tradicionais em todo o mundo. “Vimos que espécies intimamente relacionadas são usadas para tratar doenças semelhantes”, explicou o professor Rômulo Alves. “A ampla utilização de mamíferos na medicina tradicional, incluindo espécies ameaçadas, é uma evidência da importância de se compreender tais usos no contexto da conservação de mamíferos. Os aspectos sanitários do uso de mamíferos selvagens por humanos e suas implicações para a saúde pública também são aspectos importantes a serem considerados”, alertou o pesquisador.
Em sua tese de doutorado, o professor Rômulo Alves estudou o uso e comércio de animais para fins medicinais no Brasil. Nesta atual pesquisa, ampliou o escopo e utilizou-se da metodologia meta-análise. Ele prospecta que futuras abordagens poderiam incluir estudos sobre a transmissão de zoonoses e potenciais espécies transmissoras. A intenção é também incluir outras classes de animais além dos mamíferos, como aves e répteis.
Repercussão
De acordo com a repercussão científica, os resultados encontrados na pesquisa podem auxiliar numa futuro prognóstico precoce de doenças transmitidas por animais. Cientificamente é o evento conhecido como “spill over” de doenças virais, quando um vírus que ocorre em mamíferos passa a contagiar seres humanos, como ocorreu com o SARS-Cov2, vírus causador da pandemia de Covid-19.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 80% da população mundial depende de tratamentos derivados de animais. É reportado que animais selvagens e domésticos e seus subprodutos, como cascos, peles, ossos, penas e presas, constituem ingredientes importantes na preparação de medicamentos curativos, protetores e preventivos. Por exemplo, na Medicina Tradicional Chinesa, mais de 1500 espécies de animais foram registradas como tendo algum uso medicinal. Na Índia, cerca de 15 a 20% da medicina ayurvédica é baseada em substâncias de origem animal. No estado brasileiro da Bahia, foram registrados mais de 180 animais medicinais. Os resultados da pesquisa sugerem que a hiper exploração de animais para uso medicinal pode ser uma fonte negligenciada de ameaça para as espécies de mamíferos.
A pesquisa foi liderada pelo professor Rômulo Romeu Nóbrega Alves, do Departamento de Biologia da UEPB e pesquisadores vinculados ao INCT Etnobiologia, Bioprospecção e Conservação da Natureza, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco. O professor Rômulo é o principal autor da pesquisa, juntamente com mais seis pesquisadores, dos quais três são graduados em Ciências Biológicas pela UEPB.
O artigo original pode ser lido neste link.
Texto: Juliana Rosas
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