Laboratório de Ecologia Aquática da Universidade Estadual recebe certificação internacional da ABRAXIS
Crise hídrica, abastecimento, transposição, seca, racionamento. Há décadas as temáticas que envolvem a água na vida do nordestino estampam os noticiários. O Laboratório de Ecologia Aquática (LEAq) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) também integra os assuntos relacionados à água no Estado e, agora, com uma ótima notícia: a conquista de uma certificação internacional para as pesquisas desenvolvidas sobre este precioso mineral, essencial para a vida dos seres.
Depois de se submeter ao Programa de Proficiência da empresa norte-americana ABRAXIS, responsável pelo desenvolvimento de tecnologias e testes rápidos aplicados no meio ambiente, a UEPB conquistou uma certificação que segue o Protocolo 546 da Agência Americana de Proteção Ambiental – US EPA, tornando-se hoje a única instituição do Nordeste com este tipo de credenciamento a fazer análises de cianobactérias para a Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (Cagepa).
As cianobactérias são organismos microscópicos que vivem em todos os tipos de águas e realizam fotossíntese. “Não há água isenta de cianobactérias, mas o que deve ser observado é a quantidade delas por amostra. Quanto mais densa a água dos reservatórios, maior potencial de toxicidade ela pode apresentar, causando doenças e até a morte, por isso a necessidade de controle e tratamento”, explicou o professor José Etham de Lucena Barbosa, coordenador do LEAq e do projeto.
A prestação semanal de serviços de análises quantitativas e qualitativas em reservatórios paraibanos é um trabalho que o Laboratório de Ecologia Aquática da UEPB vem realizando desde 2014, em parceria com o Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) e com a Cagepa. Para que a eficácia dos exames em águas tratadas fosse comprovada de maneira mais segura, o LEAq buscou obter a aprovação por órgãos internacionais e, para isso, submeteu-se aos testes da ABRAXIS.
Mais de 50 laboratórios de dez diferentes países participaram dos exames e o resultado é que, de todo o Nordeste brasileiro, apenas o LEAq da UEPB foi aprovado, obtendo resultados satisfatórios para todas as análises realizadas e conquistando um padrão de confiabilidade acima de 90%.
Análise e indicação de tratamento
Todas as semanas, a equipe do LEAq, formada por 20 pesquisadores – entre pós-doutorados, doutorandas, mestrandos, alunos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e estagiários – cai em campo para se certificarem de que a água tratada chegue às torneiras dos paraibanos com a melhor qualidade possível. Do Litoral ao Sertão, os profissionais se dividem para visitar os mais de 85 reservatórios do Estado, coletam amostras, armazenam, congelam e encaminham para o laboratório da UEPB, onde passam por análises microscópicas, entre outras.
Por fim, são redigidos laudos sobre cada amostra e, caso apresentem mais de 10 mil células por mililitro, aumento de toxinas ou coloração diferenciada, a água merecerá maior cuidado e monitoramento especial, sendo relatados os possíveis tratamentos a serem aplicados. “Todos os dados seguem padrões de análises e normas de seguranças, que são garantias dadas à Cagepa”, assegura o professor Etham. Os relatórios são enviados não apenas para a Cagepa, mas também ao Ministério Público e a Agência Executiva de Gestão de Águas do Estado da Paraíba (AESA), órgãos envolvidos com a regularização da potabilidade das águas.
“Após a crise de água que se abateu na Paraíba como um todo, foi necessário o cumprimento mais efetivo da legislação, o que resultou no convênio para a realização dessas análises. Para nós da UEPB, a confiabilidade depositada nos profissionais, na técnica e nos equipamentos, que passam por contantes revisões e padronizações, é algo muito importante e que atesta a qualidade de nosso trabalho e da Instituição como um todo”, garante o pesquisador.
A importância da pesquisa
De acordo com o professor Etham, a obtenção do certificado da ABRAXIS é um fator motivador para a Universidade, já que é relevante ter no grupo de pesquisa algo que ateste seus trabalhos. “Isso nos deixa mais tranquilos sobre a qualidade da nossa tarefa, prestamos um serviço para a sociedade e conferimos visibilidade para a UEPB e para a Cagepa, através de um processo externo, idôneo e que credencia que o que estamos fazendo realmente tem qualidade”, afirmou.
Os recursos repassados pela Cagepa para o LEAq garantem a manutenção do laboratório, desonerando a UEPB neste sentido, e as bolsas são pagas pelo próprio projeto. A iniciativa também está servindo de exemplo, pois tem criado uma cultura de maior exigência do órgão em relação a qualidade do serviço prestado por outros fornecedores.
Segundo os pesquisadores, o grande desafio agora gira em torno das análises das águas da transposição do Rio São Francisco, já que este é um fato recente e mutável, e que poderá trazer surpresas aos técnicos, que deverão manter um trabalho de pesquisa constante para garantir a qualidade da água fornecida à população.
Texto e fotos: Giuliana Rodrigues
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